Serão textos não muito longos e esperamos não muito maçudos, que iremos publicando, sem qualquer cuidado cronológico, de autores diversos e aos quais faremos, sempre que isso nos seja possível, referência, que nos darão a todos um enquadramento histórico e principalmente social, desta vila.
Serão agrupados no tema “A História de Paço de Arcos” e no final, se o houver, teremos, na medida do possível, uma visão abrangente, discutível até em alguns casos, do que se passou nesta linda vila durante os séculos da sua existência.
Começamos, assim, com uns textos da autoria de duas escritoras, Branca de Gonta Colaço e Maria Archer, incluídos no seu livro “Memórias da Linha de Cascais” editado numa parceria A.M. Pereira, CMC/CMO. A edição é de 1943, portanto os nossos leitores ao lerem estes textos terão de os localizar nesse tempo, para a narrativa não estar deslocada.
Paço de Arcos
A antiga praia das supremas elegâncias
(Parte I)
Um povoado de fundação imemorial, minúsculo, outrora agrupado entre o agro saloio, quintas e hortas. Na época da construção do palácio haveria uns trinta fogos. O lugar mal branquejava sobre a veiga agricultada. Mas já no tempo do Marquês de Pombal a população subia a ponto de haver uma centena de fogos na aldeia.
Povoação de canteiros, de pescadores. Casario Humilde. O rio ainda no fim do séc. XIX atingia as casas que hoje ficam no centro da vila. Toda a parte da vila que se debruça sobre a avenida marginal tem uma situação de maravilha, vale por um miradouro de sonho sobre o azul do Tejo.
Passada a linha-férrea, na direcção das terras, há a encosta que domina a vila. Aí, numa posição privilegiada, Paço de Arcos vai-se alargando pelo bairro da Fonte de Maio. Arruamentos rectilíneos moradias janotas, estilo “Costa do Sol”, gosto modernista que se manifesta, claramente, na rebusca do ar, da luz, do panorama marítimo, da nota de cor dada pelas gelosias verdes e as sardinheiras vermelhas. O palacete dos Condes de Porto Covo, no alto dessa colina privilegiada, é um espécime acabado do moderno gosto urbanístico. Lembra um aduar (vivenda mourisca), construído para um árabe que tivesse feito em Paris a sua educação de bon vivant.
Paço de Arcos foi, há cinquenta anos, a rainha das praias do Tejo. Disso se envaidecia e orgulhava, pavoneando os seus pergaminhos de praia da moda com tão grande enfatuamento que parecia, mesmo, tê-los consigo desde a criação do mundo. Veraneavam ali, desde os meados do séc. XIX as famílias aristocráticas que não transigiam com a promiscuidade social. Mais tarde também se refugiavam na praia elegante todos os banhistas que abandonavam Pedrouços e as outras praias vizinhas de Lisboa, banhistas espavoridos com a invasão desses lugares pelos veraneantes da burguesia endinheirada.
Mas não tardou que Paço de Arcos também fosse invadido por essas camadas de recente lustro e tom, ansiosas de se aristrocatizarem com o trato da fidalguia. Do facto resultou a vila animar-se, movimentar-se, crescer, se não em beleza, pelo menos em tamanho. Jaime Artur da Costa Pinto, que foi um grande animador das praias do Tejo, conseguiu realizar, nessa altura, uma obra que encheu Paço de Arcos de orgulho – um parque à beira-mar e um casino à beira do parque. O casino foi inaugurado em 9 de Setembro de 1875, pelo Marquês da Fronteira. No seu edifício está agora instalada a sede social do Clube Desportivo de Paço de Arcos, casino a que tantas vezes foram príncipes e reis.
O antigo Casino de Paço de Arcos estava instalado num edifício que vemos agora, ao fundo do Parque, mostrando a sua larga varanda envidraçada. Era iluminado a gás. Uma pianista executava as valsas, as polcas, as mazurcas requeridas pela assistência. Nas quintas-feiras e domingos as noites eram de gala. Tocava nessas grandes noites um quarteto. As senhoras paramentavam-se a preceito, sendo considerado de muito bom gosto, nessas épocas, um vestido claro com saias de lã e blusa de seda.
Clube que deu brado no seu tempo. Fervilhava de intrigas, de despeitos, de mexericos. De tudo ali se murmurava – dos vestidos, dos namoros, das relações, dos parentescos, do que cada um era e do que queria parecer. Ao som das valsas enforcavam-se reputações ou garroteavam-se vaidades. Vespeiro de disputas que só o perpassar de gerações acalmou definitivamente.
in "Memórias da Linha de Cascais", de Branca de Gonta Colaço/Maria Archer, 1943
(Fim da Parte I)
3 comentários:
Em 1942/43 a praia velha era muito nova e como não havia muitos carros
era fácil atravessar. Já se começava a falar da praia nova e a dizer mal da DOCA que não ia servir para nada. No Jardim junto à marginal havia a escola com o Professor Lacerda para os meninos e a D. Isaura para as meninas.
Já gora meus Bardinos: aquela casa com ameias no Jardim ao pé do Banco que já foi restaurante quando é arranjada. Lá funcionou, no r/c uma infantário, não foi? e Por cima vivia a Detinha, não era?
Clotilde
Olá! No restaurante Flor da Fonte, na rua Fonte de Maio, estão expostas várias fotografias antigas de Paço de Arcos. Seria muito bom que estas e outras imagens históricas de Paço de Arcos pudessem ser digitalizadas e livremente disponibilizadas na Internet. Se necessário, poderei ajudar nesta tarefa. E teria todo o gosto em publicar as imagens aqui: http://www.flickr.com/groups/pacodearcos/
Olá!
Gostei muito de saber um pouco da História de Paço de Arcos, as fotos antigas de que fala seriam bem vindas. Neste momento, ando interessada na História de algumas belas casas antigas que, apesar do seu mau estado, me deixam apaixonada.
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