De 27 de Agosto a 5 de Setembro deste ano, mais uma vez decorreram as festas de Paço de Arcos, que, como é sabido por todos, têm como patrono o Senhor Jesus dos Navegantes, uma tradição mantida ao longo dos anos e que tem origem no longínquo ano de 1873, mantendo-se até aos nossos dias com excepção do hiato que decorreu de Outubro de 1910 a Outubro de 1928, oscilando a sua duração entre dois e quinze dias.
Várias hipóteses se põem sobre a origem do culto do Senhor Jesus dos Navegantes, mas a mais plausível é a aventada por Jorge Miranda de que seria originado em Ílhavo, terra de pescadores e onde o orago era o mesmo. Ao emigrarem para terras mais a sul, como muito bem observa a Dra. Maria Micaela Soares, a nossa terra "foi a pátria de grande número de pescadores que se fixaram em Paço de Arcos" e que eram de enorme devoção ao Senhor Jesus dos Navegantes, pois "no Natal e nos fins de Agosto" se deslocavam à sua terra para "tomar parte na procissão do Senhor Jesus dos Navegantes, cuja imagem se venerava na Igreja paroquial de Ílhavo".
Segundo Victor Ribeiro "a primeira ermida de que há registo terá sido mandada edificar por D. Maria Clara de Meneses, proprietária da Quinta dos Arcos, conforme escritura de 27/10/1670, sabendo já pelo padre Armando Duarte que a sua propri¬etária era, em 1698, Dona Teresa Eufrásia de Meneses".
Em 1712 o padre António Carvalho da Costa refere-se já à existência da "Ermida do Bom Jesus dos Mareantes", quando Paço de Arcos teria cerca de centena e meia de habitantes (35 vizinhos), notícia que é confirmada a 10 de Setembro de 1873 no Diário Illustrado, que dá nota da sua reconstrução, referindo que, "reabriu em Paço d'Arcos, a ermida do Senhor Jesus dos Navegantes, e d'ora em diante haverá ali missa aos domingos e dias santos".
Lá diz também que "no primeiro domingo do mês seguinte celebra-se a festividade de S. Sebastião com grande arraial".
O Diário Illustrado de 24 de Setembro de 1873 descreve, circunstanciadamente, as grandes festividades que empolgam a população e os inúmeros visitantes.
A procissão, levando à frente a recém-adquirida imagem de São Sebastião {de nível artístico inferior ao da que costumava sair da capela dos Condes de Alcáçovas), era seguida pelo andor da Senhora das Ondas, pequena e bela imagem então oferecida à povoação.
"Alguns anjinhos precediam o andor espalhando flores e seguia-os o Sr. Forjaz Júnior, representando o seu pae.
Depois das irmandades da Senhora das Dores, de Laveiras, da Senhora da Atalaia e de Oeiras, levando a bandeira o senhor Silveira, novo secretário da Câmara Municipal, indo debaixo do andor, uma senhora com vestido de penitente. Seguia-se a irmandade do Senhor Jesus dos Navegantes, com o respectivo andor, que era também precedido de anjos e acompanhado pelo patrão Joaquim Lopes.
Levava pela mão seu neto, mimosamente vestido de anjinho.
Acompanhava a procissão a banda marcial dos homens do mar vestidos de branco. Fechava o préstito a irmandade do Santíssimo levando a umbela o filho do conselheiro Lourenço da Luz, indo à sua direita o Sr. Administrador do concelho e em seguida uma banda militar.
Era grande a concorrência do povo. Viam-se nas janelas e varandas famílias a banhos, sobressaindo as varandas dos palacetes dos Srs. Condes das Alcáçovas e ministro da Bélgica, em que se achavam as principais damas e os mais distintos cavalheiros de Paço de Arcos e de Oeiras. EI-Rei o Sr. D. Fernando e o Sr. Infante estiveram nos jardins do Sr. Bessone.
À noite houve brilhante arraial, com iluminação, músicas, fogueiras, queimando-se às onze horas excelente fogo-de-artifício.
Reinou o mais completo socego e apesar de grande numero de carruagens e omnibus crusarem na estrada em que se deu o arraial, notou-se a melhor ordem".
Todas as cerimónias, de carácter vincadamente religioso, evoluíram, a pouco e pouco, aliando à religiosidade, em perfeita conciliação, o aspecto profano.
In "O Echo", de 17 de Agosto de 1900.
Colaboração do Bardino Vitor Martinez.
Várias hipóteses se põem sobre a origem do culto do Senhor Jesus dos Navegantes, mas a mais plausível é a aventada por Jorge Miranda de que seria originado em Ílhavo, terra de pescadores e onde o orago era o mesmo. Ao emigrarem para terras mais a sul, como muito bem observa a Dra. Maria Micaela Soares, a nossa terra "foi a pátria de grande número de pescadores que se fixaram em Paço de Arcos" e que eram de enorme devoção ao Senhor Jesus dos Navegantes, pois "no Natal e nos fins de Agosto" se deslocavam à sua terra para "tomar parte na procissão do Senhor Jesus dos Navegantes, cuja imagem se venerava na Igreja paroquial de Ílhavo".
Segundo Victor Ribeiro "a primeira ermida de que há registo terá sido mandada edificar por D. Maria Clara de Meneses, proprietária da Quinta dos Arcos, conforme escritura de 27/10/1670, sabendo já pelo padre Armando Duarte que a sua propri¬etária era, em 1698, Dona Teresa Eufrásia de Meneses".
Em 1712 o padre António Carvalho da Costa refere-se já à existência da "Ermida do Bom Jesus dos Mareantes", quando Paço de Arcos teria cerca de centena e meia de habitantes (35 vizinhos), notícia que é confirmada a 10 de Setembro de 1873 no Diário Illustrado, que dá nota da sua reconstrução, referindo que, "reabriu em Paço d'Arcos, a ermida do Senhor Jesus dos Navegantes, e d'ora em diante haverá ali missa aos domingos e dias santos".
Lá diz também que "no primeiro domingo do mês seguinte celebra-se a festividade de S. Sebastião com grande arraial".
O Diário Illustrado de 24 de Setembro de 1873 descreve, circunstanciadamente, as grandes festividades que empolgam a população e os inúmeros visitantes.
A procissão, levando à frente a recém-adquirida imagem de São Sebastião {de nível artístico inferior ao da que costumava sair da capela dos Condes de Alcáçovas), era seguida pelo andor da Senhora das Ondas, pequena e bela imagem então oferecida à povoação.
"Alguns anjinhos precediam o andor espalhando flores e seguia-os o Sr. Forjaz Júnior, representando o seu pae.
Depois das irmandades da Senhora das Dores, de Laveiras, da Senhora da Atalaia e de Oeiras, levando a bandeira o senhor Silveira, novo secretário da Câmara Municipal, indo debaixo do andor, uma senhora com vestido de penitente. Seguia-se a irmandade do Senhor Jesus dos Navegantes, com o respectivo andor, que era também precedido de anjos e acompanhado pelo patrão Joaquim Lopes.
Levava pela mão seu neto, mimosamente vestido de anjinho.
Acompanhava a procissão a banda marcial dos homens do mar vestidos de branco. Fechava o préstito a irmandade do Santíssimo levando a umbela o filho do conselheiro Lourenço da Luz, indo à sua direita o Sr. Administrador do concelho e em seguida uma banda militar.
Era grande a concorrência do povo. Viam-se nas janelas e varandas famílias a banhos, sobressaindo as varandas dos palacetes dos Srs. Condes das Alcáçovas e ministro da Bélgica, em que se achavam as principais damas e os mais distintos cavalheiros de Paço de Arcos e de Oeiras. EI-Rei o Sr. D. Fernando e o Sr. Infante estiveram nos jardins do Sr. Bessone.
À noite houve brilhante arraial, com iluminação, músicas, fogueiras, queimando-se às onze horas excelente fogo-de-artifício.
Reinou o mais completo socego e apesar de grande numero de carruagens e omnibus crusarem na estrada em que se deu o arraial, notou-se a melhor ordem".
Todas as cerimónias, de carácter vincadamente religioso, evoluíram, a pouco e pouco, aliando à religiosidade, em perfeita conciliação, o aspecto profano.
In "O Echo", de 17 de Agosto de 1900.
Colaboração do Bardino Vitor Martinez.