29 de janeiro de 2010

ADEUS VILAVERDE!


Armando Lopes Vilaverde


Nasceu em 1929.

Desportista ecléctico, representou o CDPA em natação, futebol e hóquei em patins.

Já praticava futebol, quando começou a jogar hóquei, em 1946, no difícil posto de guarda redes.

Cedo se impôs à admiração dos técnicos e do público, pelo que a sua ascensão se processou em ritmo certo e acelerado.

Em 1951, ainda alinhava na 3a Categoria, foi seleccionado para representar a cidade de Lisboa no encontro com a selecção de Antuérpia (Bélgica), como suplente do "grande" Emídio Pinto. Jogou os últimos 7 minutos, não falseando a confiança nele depositada. Ao tempo, o caso foi sucesso e deu brado. Fora encontrado o sucessor do titular incontestado.



Foi Campeão Regional de Lisboa na 3ª Categoria em 1948/49/51; Campeão de Reservas em 1950 e 1951; Campeão da 1ª. Categoria em 1955; Campeão Nacional em 1955; Vencedor do Torneio Internacional de Lisboa em 1956; Campeão da Europa em 1956; Campeão do Mundo em 1956.



Treinou a famosa equipa do CDPA em hóquei em patins que em 1973 foi campeã em Infantis, donde sairiam António Fernandes, Alexandre Serra, Miguel Almas, António Rocha e Carlos Coelho, todos eles, pouco depois, seniores de nomeada, a maior parte internacionais.

Em natação, fez umas coisas engraçadas, especialmente em provas no rio. Em 16 de Agosto de 1950, na prova Caxias-Paço de Arcos, contribuiu para o excelente 4° lugar, o melhor de sempre que CDPA alcançou, formando equipa com José Alfaia e José Carvalho Pereira.

Em futebol foi guarda-redes titular, mas algumas vezes houve necessidade de alinhar lugares da frente.

Possui a Medalha de Ouro de Mérito e Dedicação do CDPA e a Medalha "Prémio Patrão Lopes" da área de Desporto da Junta de Freguesia de Paço de Arcos, que lhe foi concedida em 1995.



Armando Lopes Vilaverde deixou-nos hoje!



"OBRIGADO VILAVERDE"
Os Bardinos




Texto e fotos adaptados do livro"História do Clube Desportivo de Paço de Arcos", de José Coelho.




Colaboração do Bardino Vitor Martinez.


28 de janeiro de 2010

MONOGRAFIA DE PAÇO DE ARCOS (Apontamentos) 10


___________________


Associações de recreio

Clube Desportivo de Paço de Arcos
- campeão nacional de oquei em patins -


Um grupo de rapazes de Paço de Arcos, aproveitando-se da existência de um rink de patinagem, resolveu, em Agosto de 1938, formar um clube de oquei em patins.

Para realizarem o seu desiderato quotizaram-se entre si e fizeram uma subscrição, que, graças ao bairrismo desta gente, rendeu o suficiente para a criação do clube.


Passado pouco tempo ajustaram-se dois encontros com o Rádio Clube Português. Estes dois desafios tiveram o condão de não só entusiasmar os habitantes da vila, mas também de aliar ao grupo inicial outros rapazes. O Paço de Arcos Oquei Clube era uma realidade.


A equipa que, pela 1ª vez representou o P.A.H.C.
oficialmente, em 11 de Junho de 1939.
Da esq. para a dt.:
Manuel Pórcio, Fernando Pires Moreira, José da Mata Raposo,
Leocádio Pórcio e Manuel Gomes.



Em 1939, as equipas, orientadas por Artur Gomes, começaram a disputar o campeonato de Lisboa.

E, foi assim que em 1940 conseguiu um honroso 2." lugar no campeonato de Lisboa, ficando à frente de equipas categorizadas e experimentadas como o Sporting e o Benfica.


Em 1941 ganhou a Taça de Honra. Em 1942 obteve o título de campeão de Portugal.

No ano seguinte, 1943, ganhou a Taça de Honra e o campeonato de Lisboa.

Depois, de vitória em vitória, o Paço de Arcos Oquei Clube caminhou firme e rapidamente até alcançar a posição que hoje desfruta da melhor equipa portuguesa de oquei em patins.



A equipa que ganhou o 1º título oficial para o P.A.H.C.
De pé da esq. para adt.: José Raposo, Manuel Gomes, Carlos Vieira
e Artur Gomes (treinador). Em baixo: Jesus Correia,
Emídio Pinto e António Henriques.



Em 1944 fundiu-se com outros clubes e tomou a designação de Clube Desportivo de Paço de Arcos.

Neste ano ganhou a Taça de Honra, Campeonato de Portugal, Campeonato de Lisboa (1." e 2." categorias) e Torneio de Abertura. Obteve todos estes títulos numa só época.


A segunda categoria deste clube conseguiu ganhar o Campeonato de Lisboa (2ª. categoria) nos anos de 1942, 1943, 1944 e 1946.

O resultado mais expressivo em encontros oficiais de primeiras categoria verificou-se contra o Cascais (20-0).

No ano de 1945 ganhou apenas o Campeonato de Portugal.

Compondo-se apenas de elementos de Paço de Arcos, as suas equipas contam os melhores jogadores do País, tais como os internacionais Jesus Correia e seu primo Correia dos Santos, que são, indubitavelmente, os melhores avançados portugueses de todos os tempos.


1947 - Campeão Nacional
De pé, da esq. para a dt.: Jesus Correia, Emídio Pinto
e José Raposo. Em baixo, pela mesma ordem:
Manuel Gomes, Correia dos Santos e António Henriques.



Em Maio de 1916 o Clube deslocou se a Espanha onde disputou quatro jogos, todos com resultados vitoriosos e as suas exibições foram de tal maneira convincentes, que a imprensa espanhola não lhe regateou aplausos, tendo classificado os jogadores do Clube Desportivo de Paço de Arcos como «verdadeiros mestres do oquei em patins».

Para o extraordinário sucesso desta modalidade de desporto em Paço de Arcos contribuíram, além do espírito desportista e bairrismo dos jogadores, muitas pessoas, destacando-se Domingos Silva e Leonel Costa como treinadores dedicados e proficientes.

A primeira categoria de oquei em patins do Clube Desportivo de Paço de Arcos, que jogou em Espanha, onde obteve quatro vitórias e que em Portugal já ganhou cerca de setenta taças, é constituída pelos seguintes jogadores: Emídio Pinto (capitão do grupo), António Henriques, Manuel Gomes, Jesus Correia, Correia dos Santos e José Raposo (suplente).

Segunda categoria: António Aguiar Valente, Armindo Neves, Rogério Maia, João Trindade e José Raposo.

Finalmente, a terceira categoria compõe-se de: Manuel Antunes, Horácio Matias, António do Carmo, Carlos Ramos e Rui Lince.

Paço de Arcos criou nome em todo o País e no estrangeiro, principalmente na Espanha e na Suíça, por triunfos conseguidos pelo seu grupo de oquei em patins, que é hoje, como acima fica dito, a melhor equipa portuguesa desta actividade desportiva.

O Clube Desportivo de Paço de Arcos tem as seguintes secções: atletismo, basquetebol, futebol, ginástica, natação, oquei e patinagem, remo, ténis, tiro e vela.


A juventude radiosa de Paço de Arcos voltou-se para o mar. E hoje já tem muitos e bons velejadores. Voltaram de novo as regatas e provas de natação.




Regatas de Paço de Arcos


Este mapa é a cópia fiel dos que a Real Associação Naval usava nas regatas de Paço de Arcos em 1852 1853, 1854, 1855, 1056. etc., das quais o Sr. Conde das Alcáçovas era a alma e os Srs. Abei Powell Dagge, L. F. Moser e D. Garland os seus mais devotados colaboradores.


Aspecto de regatas realizadas em Paço de Arcos.

Mais tarde é que outros nomes se evidenciaram em colaboração com estes, tais como: os Srs. Visconde da Carreira, Francisco Soares Franco, Marquês de Fronteira, Frederico F. Pinto Basto, José Lourenço da Luz, Duque da Terceira, Marquês de Ficalho, Marquês das Minas, Conde de Farrobo, Barão de Lazarim e tantos outros.


Outro aspecto de regatas realizadas em Paço de Arcos.


A Real Associação Naval, fundada em 1856, foi o único clube naval fundado por decreto régio, por proposta do Sr. Visconde de Atouguia e representação do Sr. Conde das Alcáçovas a Sua Magestade.




Orfeão de Paço de Arcos

Grupo do antigo Orfeão de Paço de Arcos.

Em princípios do ano de 1929, alguns entusiastas da música coral, residentes em Paço de Arcos, pensaram em organizar um orfeão e para a sua direcção artística convidaram o maestro Gustavo de Lacerda que, da melhor vontade e desinteressadamente, acedeu àquele pedido.

Organizado o grupo, à medida que se intensificavam os ensaios, aumentava o entusiasmo e também o número de orfeonistas, até que em 15 de Outubro do mesmo ano o Orfeão fez a sua apresentação no Cine-Teatro desta vila, em espectáculo completo, com duas partes preenchidas pelo Orfeão e uma de solos de canto, piano e violino, desempenhada por orfeonistas.

O sucesso foi retumbante, o que deu em resultado o grupo aumentar, sendo agregados os naipes femininos, que mais realce vieram dar com a frescura das suas vozes.


Instalou-se a sede no Casino Vitória e criaram-se aulas de solfejo, piano e violino, regidas pelas professoras D. Dália de Lacerda, D. Maria Isabel de Sales Baptista e maestro Gustavo de Lacerda. Os seus resultados em breve se manifestaram pela criação de uma pequena orquestra de salão, que tomou parte em vários espectáculos.

Também foi organizado um grupo teatral, sendo desempenhadas algumas peças musicadas, como as operetas Gheisa, Ceifeiras do Alentejo. Serranos, etc., e algumas comédias.

Além de muitos concertos realizados em Paço de Arcos, o Orfeão também se fez ouvir, sempre com muito agrado, em Cascais, Torres Vedras, Queluz, Dafundo e Lisboa num concerto oferecido aos ceguinhos do Asilo-Escola António Feliciano de Castilho.


Cine-Teatro de Paço de Arcos



Entre os vários artistas que colaboraram nos concertos do Orfeão de Paço de Arcos, contaram-se a cantora D.Isabel Bergstom, o saudoso tenor José Rosa, o tenor Almeida Cruz e a pianista D. Dália de Lacerda.

Efémera foi a vida do Orfeão. Em quatro anos de existência, colheu fartos aplausos nas suas noites de glória. A dispersão de alguns dos seus melhores elementos, a falta de tacto administrativo de outros, foi a sua ruína. E foi pena que se extinguisse, porque Paço de Arcos podia orgu¬lhar-se de ter um dos melhores agrupamentos corais de todo o País.




Casino de Paço de Arcos


Na Avenida Marquês de Pombal encontra-se um edifício que tem uma larga varanda envidraçada e na qual se lê a seguinte legenda: «Clube Desportivo de Paço de Arcos».

É aqui que está instalado o clube que deu brado no seu tempo Foi inaugurado, no dia 9 de Setembro de 1875, sob a presidência do Sr. Marquês de Fronteira. Houve baile muito concorrido e pomposo.


Brilhantes festas ali se realizaram com a assistência da alta aristocracia veraneante e, algumas vezes, tiveram a presença da família real e dos próprios soberanos.

Era, nesse tempo, iluminado a gás.

Os pares dançavam ao compasso das valsas, mazurcas ou polcas, executadas por um pianista, que atendia os pedidos da assistência. As noites de domingos e quintas-feiras eram de gala e, então, havia quarteto.


As senhoras paramentavam-se a preceito, sendo considerado de muito bom gosto, nessa época, vestirem-se de claro — saia de lã e blusa de seda. Diz Maria Archer que «neste clube se murmurava de tudo — dos vestidos, dos namoros, das relações, dos parentescos, do que era e do que queria parecer.

Ao som das valsas enforcavam-se reputações. Vespeiro de disputas, que só o perpassar de gerações acalmou definitivamente».


É neste edifício que, actualmente, está instalado o Clube Desportivo de Paço de Arcos.






Tauromaquia — O Cavaleiro Fernando Ricardo Pereira


Em Julho de 1901 saiu, em número único, O cavaleiro — jornal dedicado ao exímio cavaleiro Fernando Ricardo Pereira pelos seus amigos de Oeiras e Paço de Arcos.

Transcrevemos do referido jornal o seguinte: «constituem as touradas na Península o divertimento nacional por excelência aquele que, dentre todos, nos faz vibrar a alma por um estranho estímulo em que à recordação de brilhantes lutas passadas se alia a ideia dum espectáculo grandioso de luta entre força inteligente e educada e a força selvagem e mil vezes superior da fera que deante de nada recua, que de nada se teme! Compraz-se o homem em mostrar que, débil do corpo mas forte de engenho lhe é fácil iludir força bem superior. Hoje em dia, era de civilização e progresso, parece que mais do que nunca se procura pôr em prática o velho aforismo romano — mens sana in corpore sano - e por toda a parte o Sport recebe enorme incentivo. Lá fora o exercício físico é considerado por todos como cousa necessária à saúde e portanto à vida. O divertimento nacional, aquele que mais fundamente impressiona o sentimento popular e mais comoção lhe dá é a tourada. Das nossas especialidades tauromáquicas uma ressai e se salienta dentre todas as outras pela sua dificuldade e pelo seu brilhantismo: é o toureio a cavalo. É talvez o ramo mais completo e difícil da arte de tourear; com muita soma de justiça nos podemos vangloriar dessa especialidade pertencer genuinamente à lide portuguesa».

Fernando Ricardo Pereira foi um dos que se dedicou a essa difícil arte.

Este exímio cavaleiro se não foi uma notabilidade na tauromaquia nacional foi, na verdade, um dos cavaleiros mais arrojados e um dos que mais procurou variar o trabalho sem nunca deixar de observar os preceitos da arte.

Logo na tarde em que fez a sua estreia como amador, em uma corrida promovida por sua própria iniciativa, na extinta Praça da Cruz Quebrada, a 19 de Junho de 1892, Ricardo Pereira poude evidenciar-se em toureiro elegante e valente.

Em uma tourada realizada na Praça de Vila Franca, na tarde de 13 de Junho de 1893, o seu trabalho foi de tal ordem que, achando-se Alfredo Tinoco num camarote assistindo à corrida, recebeu Fernando Pereira daquele insigne cavaleiro a maior honra a que até então podia aspirar: Tinoco desceu á arena e abraçando-o efusivamente aconselhou-o a prosseguir na carreira tão brilhantemente encetada!

As palavras daquele chorado toureiro, uma das maiores celebridades tauromáquicas, parece terem encontrado eco no ânimo de Fernando, porque demonstrando nas primeiras corridas em que entrou, aliar à sua natural propensão uma serenidade e sangue frio notáveis, em breve conseguiu trocar o nome de amador pelo de artista, recebendo a alternativa das mãos de Manuel Mourisca, o glorioso mestre dos nossos cavaleiros, na corrida efectuada no Campo Pequeno em 21 de Abril de 189í.

De então para cá, Fernando deu as mais irrefutáveis provas do seu valor, evidenciando de ano para ano dotes artísticos que nem a todos é lícito conquistar.

Ao Exmo. Sr. Fernando Ricardo Pereira, distinto amador tauromáquico, pela ocasião do seu debute na Praça do Campo Pequeno, em 29 de Outubro de 1093:

Aqui n'esta arena onde a arte se apruma,
Nivelam-se artistas de sumo primor:
As provas do génio que em ti predomina,
Te elevam à glória de um bom lidador.


Era pena então ficar-se
Envolvido em densas trevas
Esse génio, em que te elevas,
Justo foi aqui mostrar-se.

Destemido cavaleiro,
Qual artista consumado.
És glória dos conterrâneos,
Que sem favor te hão louvado.

Prossegue, não canses, que exímios toureiros,
Já citam teu nome de excelso amador!
Aceita estes versos, não são lisongeiros,
Pois só me inspirou teu denodo e valor!
B. H. C.

Paço de Arcos teve durante muitos anos uma bela praça de touros.

Filipe Taylor foi no seu tempo um dos melhores forcados e atletas do País.


Dr. João Moreira Rato, embora novo na arte de tourear, é presentemente, pelo seu valor e muito já evidentemente demonstrado, um cavaleiro popular e querido dos amadores de touradas.





Filipe Taylor —O atleta de maior popularidade no seu tempo

Filipe Taylor

Vive nesta vila uma figura veneranda que foi no último quartel do século XIX o primeiro atleta português em pesos e alteres.

Embora de origem britânica, Filipe Taylor, foi sempre e continua sendo um bom português, tendo começado a sua vida desportiva como ciclista, em que fez na sua bicicleta percursos notáveis.

Como atleta, o seu trabalho era realmente de valor.


Pondo uma barra especial conhecida por «barra do Filipão» que pesava 90 quilos, ao dispor do público, antes do espectáculo para alguém a levantar, que nunca ninguém conseguiu, era depois quando ele a erguia num braço só, o motivo para uma apoteose popular.

Em 1896, toda a gente de Lisboa conhecia o homem das forças do Real Ginásio Clube Português.

Como moço de forcados amador, nas praças do Campo Pequeno e Algés e em diferentes da província, ele distinguiu-se sempre e foi sempre alvo de estrepitosas ovações.



Texto de M.P. Videira em, "Monografia de Paço de Arcos (Apontamentos), 1947.




Colaboração do Bardino Vitor Martinez.



26 de janeiro de 2010

A NOSSA MINISTRA

Paço de Arcos indignado

A menina da/na moda, Paçoarquense, foi seriamente enxovalhada, num programa televisivo, que só pode ser classificado de escória, em primeiro lugar por essa razão.

A menina é a nossa mui querida Ministra do Trabalho, Helena André.

O programa em causa auto intitula-se de Plano Inclinado (espero que para o lixo). Programa que se destina a falar mal, ‘bota-a-baixo’ radical (despeito?).

Todos conhecemos a velha historieta, chamem-lhe o que quiserem, dos ‘velhos do Restelo’. Em breve; trata-se de uns quantos, que não outro fito na vida, se dedicam a criticar e apontar tudo quanto seja defeito, sem se preocuparem com aspectos positivos, mínimos que sejam, ou construtivos, ainda menos.

Por outras palavras, não prestam, e só servem para lançar a confusão sem nada oferecerem para o todo.

É o caso do supracitado programa. É confrangedor ver gente como o Dr. Medina Carreira, e é deste que se trata, personagem que tem merecido o nosso, e de grande parte dos Portugueses, máximo respeito, embarcar neste tipo de diatribes.

Tudo a propósito da nossa menina ter dito na Assembleia da Republica, que a visão do Dr. Medina Carreira sobre as contas públicas era ‘catastrofista’.

Não foi a primeira, não será, seguramente, a última.

Nem sei onde estará a mediana (ou a razão). Como sempre, estará algures equidistante.

Importante para nós é que a nossa menina não seja mal tratada, enxovalhada, ou sequer olhada de lado.


Usando linguagem mais actual e de aviso ‘á navegação’, “o people tá cá masé pra proteger a menina”; cuidem-se.

Segue-se grito de guerra:


Helena amiga, “Os Bardinos” estão contigo.



Nota - Com a devida vénia pel'O Zangado
ao blog WEHAVEKAOSINTHEGARDEN.






Colaboração do Bardino Fernando Reigosa.


25 de janeiro de 2010

AS ESTÓRIAS DA BARDINAGEM 06

À conversa com: LILIANA
(Digníssima esposa do Armando ‘carinhas’ Aires)

De algum modo entusiasmado com as memórias aqui divulgadas, do nosso amigo e companheiro Fernando Sampaio, e até em resultado de uma menção por ele feita, decidi conversar um pouco com a dita Liliana (uma das pessoas que ainda têm memória, mas haverá mais), dando assim início (espero eu) a um ciclo que possibilite ressuscitar recordações das gentes antigas de Paço de Arcos (que não velhas).

Aqui vai o relato, dividido em três secções principais:

A Liliana recorda-se vagamente da peça referida pelo Bardino Fernando Sampaio (aqui há Fantasmas????), mas teria pouco texto, daí preferir recordar outras.



1) A peça de teatro História de Portugal


"Logo a seguir (à peça referida pelo Fernando Sampaio) veio a "História de Portugal", que foi feita com apoio da escola, porque era a história de todos os reis Portugueses. Esta peça foi há 57 anos. Tinha eu 10 anos. Andávamos todos na 4ª classe.

Quem encenava era o Tavares que tinha muito jeito e a Bébé (Isabel Castro) também ajudava. A Bébé ia quase sempre pintar-nos, e como tinha também conhecimentos de guarda-roupa, era ela quase sempre que tratava dessa parte. Trazia a roupa emprestada dos teatros. Já viste o que era os nossos reis todos vestidos a rigor, desde a rainha Santa Isabel, a Dª. Inês de Castro, etc.?

Os papéis principais foram o D. Afonso Henriques feito pelo Américo Bravo que já morreu, a D. Inês de Castro, que seria morta depois, com os filhos príncipes, todos vestidos a rigor.

A Rainha estava sentada num cadeirão muito bonito, tudo vindo de casas muito ricas de Paço de Arcos. Ela muito bem vestida, ouve barulho e pergunta “És tu que vens da caça, meu senhor?”, e vê entrar os três que a mataram, encapuçados, os miúdos fogem para debaixo do maple, mas eles matam-na e matam um dos miúdos.

Quem fazia de Rainha Santa Isabel era a Tanica que era dos Lynce, uns irmãos gémeos que moravam na Fonte de Maio, e tinha um irmão que era o Tonico.

O peça tinha dois actos, cada um com dois ‘compéres’, um rapaz e uma rapariga, com vários quadros (cerca de 6) cada.

No princípio (compére) era o Américo Bravo a fazer de saloio, porque tinha vindo há muito pouco tempo do Alentejo e ainda falava daquela maneira típica, e a Tanica que era toda espevitada, uma menina criada aqui com famílias bem, que eram os Lynce.

Começava com ele a perguntar a ela:

- Ó menina por favor (ele vestido à saloia e ela toda vestida de organdi, cheia de folhos como se usava na altura) pode-me dizer onde mora o professor?

Ela olhava para cima para ele, porque era baixinha e gordinha, e dizia:

- Professor? O professor mora ali, mas porque é que tu queres saber? Virás para a escola também?

E ele responde:

- Ai, se me ensinassem era uma esmola, pois não sei ler nem escrever nem nunca vi uma escola.

- Então vou-te dizer onde mora o professor, para tu poderes ir para a escola, mas vais ver já como os nossos reis eram grandes.

Então fecha o pano e aparece o primeiro Rei.

- Eu sou D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal, e esta coroa com que me vês conta as guerras que eu ganhei.

Olhava para a plateia. Assim como quem estivesse á procura e dizia:

- Se houver Mouro pimpão que se atreva a um desafio eu faço dele um esfregão um corrupio.

Depois parava e dizia:

- Já vi, perderam o pio (como quem diz, já não há gente para lutar).

Depois fecha o pano, e vêem outra vez os ‘compére’, e ela diz:

- Então gostaste do primeiro Rei de Portugal?

Ele responde:

- Gostar, gostei mas deu-me vontade de ir aos fagotes ao Rei (porque ele perguntava se havia alguém para lutar).

E ela diz:

- E nasceu gente muito boa, por exemplo a nossa Rainha Santa. Queres ver como ela foi generosa?

Sobe o pano outra vez. Aparece a Rainha Santa muito bonita com o manto caído e as criadas do Rei a porem pão. Ela tinha dois mantos e um estava dobrado.

Quando aparece o Rei, pergunta:

- Senhora que levais vós no vosso manto?

E ela diz com um ar muito triste e apavorado (bem ensaiado):

- Senhor, senhor, são rosas meu Senhor!

- Rosas em Janeiro? Pergunta o Rei. Não é coisa vulgar, mas mostrai-me primeiro para que eu possa acreditar.

Ela olha para o céu, põe as mãos e deixa cair o manto caindo as rosas (do manto de dentro), e ele então ajoelha-se no chão e diz:

- Ó milagre Santa, ó milagre Santa, perdoai-me por não estar habituado a ver estas bondades nas vossas mãos.

Então beija-lhe a mão.

Cai o pano.

Vem a ‘compére’ a chorar, e pergunta:

- Então gostaste da nossa Rainha?

D. Afonso Henriques, D. Dinis, a Rainha Santa Isabel, a D. Inês de Castro e mais dois ou três completavam o primeiro acto.

Depois vieram outros ‘compéres’. Lembro-me que ela era uma rapariga chamada Lina que queria ser hospedeira de bordo, e foi, e morava no mesmo prédio do meu tio António, por cima da loja das bicicletas, com uma tia.

Os ‘compéres’ estavam ao contrário. Ele é que era um senhor.

Aqui entravam o D. Nuno Álvares Pereira, o Gungunhana, muito gordo (quem fazia o papel era o Ramiro Boavida - filho da Arlete Boavida – e que também fazia muitos papéis como eu, e que morava na Fonte de Maio; infelizmente morreu o ano passado).

Entretanto para dar tempo à mudança dos cenários, havia sempre coros, e poesia ou ballet com a Margarida Castro e Silva, que também entrava nas peças de teatro porque dançava muito bem; andava no ballet em São Carlos.

O Ramiro, era gordo e pequenino, (já a mãe era uma mulheraça; a filha dele - que é muito forte - é agora professora na creche), mas muito engraçado, sentado no chão de tanga e acorrentado, todo pintado de preto, com uma grande cabeleira.

Havia também no segundo acto a Padeira de Aljubarrota que era eu, o Rei da Restauração, D. João IV, etc.

Enquanto éramos pintados vinha a Tanica dizer o poema ‘A neve’:

-Batem leve, levemente como quem chama por mim; será chuva será gente; gente não é certamente e a chuva não bate assim; talvez uma agulha bolia na quieta melancolia dos pinheiros do caminho; fui ver, a neve caía do azul cinzento do céu; branca e fria há quanto tempo eu a não via; etc. Levou muitas palmas, as pessoas ficaram comovidas.

Outro era a dizer o ‘Dia de anos’:

- Com que então caiu na asneira de fazer na quinta-feira 26 anos; ainda se os fizesse, mas fazê-los não me parece de quem tem muito miolo; não sei quem me disse que fez a mesma coisa que o ano passado; etc.

As vestes eram a condizer, para ‘A neve’ vinha toda de branco, para o ‘Dia de anos’ vinha toda enfeitada.

Eu era a papoila. Dizia um poema que começava assim:

- Vista do alto da serra com um ar muito tolo nasceu num monte de terra, dona papoila …. Já não me lembro de mais porque era muito grande. Era de um autor português que, salvo erro se lia no primeiro ano.

Havia outra que era muito gira que se chamava ‘O balão’ que vinha no mesmo livro:

- Houve festa, houve bolo, rebuçados e muitos balões, e no fim a mãe disse ao filho, vamos para a cama que já é tarde; abriu a janela e ele disse: mamã, mamã, olha, olha; a mãe olhou, viu a lua mas pensou e disse para o filho: aquilo meu filho é o balão do menino Jesus; e deitou o menino. No outro dia o menino saltou da cama, abriu a janela e gritou: mamã, mamã o menino Jesus rebentou o balão.

Havia também hinos, o dos marinheiros:

- os marinheiros aventureiros, são sempre os primeiros ….etc. Cantavam todos muito afinadinhos, vestidos a rigor, por exemplo neste estávamos todos vestidos de marinheiros, e quem arranjava os trajes era a Bébé.

Lembro-me de lhe dizer que o Sr. Virgílio (Tavares) não tinha arranjado um fato para o número da padeira de Aljubarrota, e ela responder:

- isso não tem importância. Pedes á tua mãe uma saia rodada daquelas de lavar a roupa, e um avental e depois uns sapatos, ou tamancas, que ainda é melhor, e a gente vai ao Félix pedir uma padeira. A pá era tão grande e tão alta que eu quase não podia com ela, enquanto dizia: Se houver um espanhol que se atreva a desafiar-me, eu faço dele uma carcaça, um pão grande que ponho no forno a assar. Começava assim: eu sou uma mulher do povo, grande, valente e honrada que nasceu do nosso povo para servir a Pátria amada; depois vinham os espanhóis, metiam-se lá dentro e eu pegava na minha pá e tinha que balançar. Mas a pá era muito grande e aquilo deu uma risada enorme.

Mas foi muito bonito. Era a história de Portugal toda.

Além do D. Afonso Henriques, havia o D. Dinis, que entrou de enxada e pinheiros na mão para plantar o pinhal de Leiria, a Dª. Isabel, D. João, a Dª. Filipa de Vilhena (que era a Gualdina), a armar cavaleiros os filhos. Depois foi o D. Nuno Álvares Pereira na batalha de Aljubarrota, etc., até ao Salazar, que foi o último quadro.

- O Salazar, que era o Paulo Brás, fez uma homenagem às mães de Portugal. Muito bem caracterizado, com óculos, cabelos grisalhos, ar sério. As mães de Portugal, eram todas as mães, as criadas de servir, operárias, que apareceram depois da guerra do Hitler, as mulheres do povo sem serem pobres, que já iam bem vestidas, e as senhoras de vestido, salto alto e mala, e de chapelinho. Eu era a primeira senhora. Como tal fui logo recebida, fiquei ao pé dele e fui a única a ficar sentada, as outras ficaram em pé. Eu dizia que ele era um grande estadista e que não achava bem que não gostassem dele, porque ele era o único que tinha evitado a guerra civil em Portugal (a senhora que eu representava sabia muito de política). Ia vestida com um ‘tailleur’ da minha irmã que se tinha casado há um ou dois meses. Atrás tinha um grande alfinete porque eu era muito magrinha, salto alto com algodão e barbas de milho á frente para os pés não escorregarem nos sapatos, e lá ia eu trocando as pernas (estava mais habituada a andar descalça).

O quadro do Carmona também foi muito giro, mas eu não entrei, porque era logo a seguir e não tinha tempo. Apesar de saber os papéis todos do princípio ao fim.

A professora na escola dizia-me:

- Pois, do teatro sabes tudo, mas aqui nem por isso.

Quando alguma estava doente nos ensaios, era eu que ia substituir. Quem fazia de Carmona era o Tonico que era muito bonito. Com uma cabeleira branca, farda do exército, etc.



2) A peça de teatro Nau Catrineta


A seguir foi a Nau Catrineta.

Os mais pequenos andávamos no palco, que era a nau, com garfos e facas a perguntar aos outros:

- Tens aí alguma coisa para o almoço? e eles respondiam:

- Não, só se for…, olha toma lá o meu cinto e põe de molho; era uma altura que não havia nada para comer.

O comandante era o irmão do Reinaldo, o João Vasco (actual Director do Teatro Experimental de Cascais), que é hoje artista de teatro.

Como o Tavares arranjou um trabalho em Lisboa, foi ele que organizou mais a Nau Catrineta.

Eu era a fada. Eu tinha que ser sempre a principal porque ele gostava muito de mim.

O comandante estava no cais e dizia:

- Já vejo no horizonte novas caravelas, que novas me trarão? Será Diogo Cão? Será a Nau Catrineta?

A peça era a vida a bordo, com os marinheiros a subirem os mastros dizendo:

-Meu comandante, meu capitão, não vejo nada senão areias; e eles perguntavam:

-Mas serão areias de Portugal? Mas eles não viam mais nada porque a Nau Catrineta desapareceu, nunca chegou a terra.

Eu era a fada que entretinha as filhas do comandante que também iam a bordo, porque se elas estavam sem fazer nada, nunca mais passava o tempo. Cantava a história do relógio, vinha com a varinha e tocava numa e dizia:

-Tu agora és um relógio, e aparecia um relógio que começava a dar horas. Eu como era a fada andava pela Nau toda e quando via alguém triste tocava com a varinha e dizia (por exemplo): não estejas triste, pensa que estás a comer um bom bocado de comida; e aparecia á frente dele um prato de comida.

Eu era uma miúda de doze anos muito loira e bonitinha, cabelos muito compridos e encaracolados (com papelotes da véspera), vestida com aqueles fatos que eu adorava, sentia-me mesmo fada. Tinha poucas falas, porque como não havia muito que fazer a bordo, cantava-se muito.

Quem também trabalhou muito para esta peça foi a Bébé, que ainda mora ao pé da Oceania.



3) Memórias a avulsas


Fizeram-se muitas representações no cinema.

A Floripes tem memória de muitas coisas, porque também era grande entusiasta do teatro. Antes do meu tempo, também houveram muitas peças representadas no clube, com ela a minha irmã Preciosa e a minha cunhada Conceição.

Quem fazia todas as encenações eram o Tavares (que era professor, e estava proibido de dar aulas por razões políticas) e a Bébé. Este Tavares era filho da nossa professora, mas estava mais adiantado, porque a mãe só tinha a quarta classe. Ele é que ensinava a admissão ao liceu e dava explicações para o primeiro ciclo do liceu.

O João Vasco gostava muito de mim. Quis-me levar para o teatro, a minha mãe é que não deixou. Ele era muito meu amigo, as pessoas até pensavam que éramos namorados, mas não até porque ele nunca gostou de mulheres. Ele era o nosso ídolo. Tem mais dois anos que eu mas adorava-me. Ainda um dia destes perguntei á irmã como se chamava ele, porque para mim era sempre o Fernando.

Eu não fui para o teatro porque a minha mãe não me deixou. Primeiro era preciso dinheiro e eu tinha que trabalhar. Ela não se importava, mas eu tinha que me sustentar, vestir e calçar, e o teatro não dava dinheiro. Tinha 12 anos e o meu pai já não podia sustentar-me.

Em conversa um dia destes com o Paulo Brás perguntei-lhe:

- Tu lembras-te das peças de teatro?

- Se me lembro, eu fazia, nem quero que saibam agora, fazia de Salazar.

- Olha eu, como sabes fazia teatro, entrava em todas a s peças, ali em baixo no clube primeiro e depois passou para o cinema (Cine Teatro de Paço de Arcos) porque era maior e as pessoas tinham onde se sentar. As pessoas iam de graça, algumas davam qualquer coisa, para a ajuda das despesas que eram muitas.

Um dia destes vi a Tanica. Ela e a Nani (irmã do Pereira Júnior), eram muito amigas, as mães também eram muito amigas, eram ricas, andavam nos chás, não andavam com a minha mãe. Mas elas andavam connosco, eu era pobre, até podia andar descalça mas ia comer a casa delas.


A Comunhão Solene.


A Tanica, não consigo lembrar-me qual era o nome, mas tenho a impressão que era Teresa, casou com o filho do dono dos fogões Hipólitos, que na altura era coisa boa; a cabeça do fogão nunca se estragava, enquanto os outras custavam dez escudos, os Hipólitos custavam 50 escudos. Eu fui lá ver com a Nani, ali na Lapa, uma casa muito chique, uma vivenda muito grande.

O Carmona veio a Paço de Arcos inaugurar a escola Dionísio Matias, estava eu na 1ª classe. Eu era pequenina e muito loirinha, e como estava na primeira fila, ele olhou para mim e disse: então minha pequenina tu já andas na escola? Eu devia parecer ter para aí uns 5 anos, mas tinha sete. Então ele deu-me um beijinho. Fui a única criança que ele abordou.


Praia das Fontaínhas, com Firmino, ‘bon vivant’, que ao que consta
nunca trabalhou, vivendo ás custas da mãe e das tias, e que morava
na casa hoje Restaurante Dízima, mesmo em frente aos Socorros
a Náufragos. Agosto de 1958, já casadinhos, presumivelmente,
Liliana e seu ‘mais-que-tudo’ Armando ‘carinhas’ Aires.


Também conheci muito bem a Amália Rodrigues, porque o meu irmão Manel era muito amigo do José de Castro desde os tempos de escola. O meu irmão era telegrafista na tropa, sabia Morse e isso tudo. Fez um aparelho para transmitir

e iam para a Regueira (como ele era comunista), embora o meu irmão não fosse de políticas.

O Zé dava-lhe fatos e camisas, e comia em casa deles porque esteve desempregado 3 anos. O meu irmão tomava conta de nós, as irmãs, e então levava-nos também lá a casa, e quando não havia mais nada, o Zé dava-nos queijo e manteiga, que não tínhamos em casa. Ás vezes também lá estava a Amália Rodrigues.

Quem por vezes aparecia era o Philip Taylor, que foi o primeiro ciclista de Paço de Arcos. Muito famoso (como ciclista), a bicicleta dele está no museu do Caramulo. O Armando conheceu-o; o prédio do Guedes era dele. Foi lá que ele nasceu e morou. Era dono dos Armazéns Godinho onde era o Seco. Morreu com 88 anos. Era atleta, fazia pesos e halteres."


1958. Dezasseis anitos e casou-se.





Relato na primeira pessoa de uma conversa com a Liliana e com o bardino Fernando Reigosa.





Colaboração do Bardino Fernando Reigosa.



24 de janeiro de 2010

AS ESTÓRIAS DA BARDINAGEM 05

OK, KO ou Hóquei???????


Tal tá a moenga, hem?

Numa terra que respira hóquei em patins mais e melhor que qualquer outra neste planeta, onde quase toda a gente nasceu ‘em cima de patins’, onde quase toda agente transporta uma miríade de genes hóquistas no sangue, há não sei quantas gerações, e ninguém se ‘chega à frente’ com historietas, recordações e outras ‘balhanas’ hóquistas?

E eu, puto que nunca se conseguiu sequer equilibrar em cima dos patins, que chego a esta terra em plena áurea mundial do CDPA, sem sequer perceber a maioria dos nomes importantes dessa saga, sem sentir o apelo, que sempre me espantou com a loucura do ‘chamado’ aos jogos de hóquei no simpatiquíssimo ringue Leocádio Pórcio; eu é que vou ter que puxar pelo ‘bestunto’ para dizer meia dúzia de barbaridades?

Valha-me Deus, gente inepta.

Para vossa vergonha vou desatinar meia dúzia de coisas e episódios, que, muito provavelmente, vai obrigar uns quantos a virem à liça corrigir-me. Ao menos isso.


Os Artistas

Nos princípios dos anos 40, quando cheguei a Paço de Arcos, ouvindo conversas do meu pai com as visitas e amigos, tomei consciência que o CDPA era o melhor Clube do mundo, em termos desportivos, e, apenas no hóquei em patins, sendo como tal conhecido e respeitado por todo o lado.







Não me recordo de ter visto jogar o Emídio Pinto, mas ainda me lembro do Manuel Gomes, do António Henriques, do Jesus Correia e do Correia dos Santos. Seguramente que me esqueço de alguém. Que me desculpem.

Mais tarde, já eu por conta própria, ainda jogava o velho Correia dos Santos, tive oportunidade de ver uns quantos que fizeram nome, e que mantiveram, de algum modo, o nome de Paço de Arcos em alta.


Vilaverde, o único guarda-redes que eu vi recusar a máscara, por atrapalhar, dizia ele, que terá sido popularizada já ele era guarda-redes de enorme nível. Daí umas quantas marcas na cara que ainda perdurarão.

O Campos, defesa raçudo, que não hesitava em ‘aviar’ umas quantas ‘sticadas’ em quem o aborrecesse, dentro e fora do campo. Recordo-me de um jogo, julgo que com o Sporting, em que alguém, penso até que mulher, sentada na bancada terá desferido impropérios inaceitáveis, para o Campos, que motivou resposta rápida com duas ou três ‘sticadas’ para a bancada, atingindo várias pessoas. Não me lembro de como acabou, porque, miúdo na época, logo que havia confusão, estava instruído para sair de cena.


O Silvino Valente, jogador elegante, bem comportado, muito bom guarda-redes.


O Virgílio, médio de grande habilidade e virtuosismo, daqueles que decidem os jogos, mas quando dava para endurecer, nunca deixava o seu amigo Campos sozinho.


O Carlos Abreu, porventura uma das melhores ‘produções’ do Xico ‘Arolha’ (falaremos a seguir). Avançado virtuoso, a um tempo ágil e poderoso, que muitos estragos fez nas equipas adversárias, daí a ‘procura’ e o assédio que teve pelas equipas mais ricas.


O Pompeu defesa ainda mais poderoso, mas com deficit de agilidade que compensava com enorme entrega, inclusive do seu peso.


O Rosa Soares, mais conhecido por Bacalhau, que era um avançado extremamente habilidoso e rápido, que tinha uma característica única (digo eu). Quando a equipa estava em queda, sem conseguir reagir, ou, e sobretudo, algum adversário lhe ‘ia aos fagotes’, então as enormes potencialidades deste eclético jogador simplesmente explodiam. Um deleite para a vista.


Quatro brilhantes guarda-redes marcaram sucessivamente (a ordem não garante fidelidade ao tempo), Carlos Abrantes (Camané), Louro, Rui Monteiro e “Nicha” da Silva, a excelência da defesa das redes Paçoarquenses.


Outros tantos defesas, com a mesma premissa temporal, marcaram a minha memória; Américo Bravo, suficientemente competente, Alfredo(inho), fininho mas duro quanto baste para suprir algum deficit habilidoso (nunca comprometeu), José Soares, também suficiente para ‘equilibrar’ a equipa, e o Rafael ‘Cabecinha’, este já com um andamento bem diferente, capaz de promover desequilíbrios com a qualidade do seu jogo e o empenhamento notável.


Mas as delícias supremas da minha memória, e dos companheiros com quem eu conversava à época, residem em dois médios (que então eram quem funcionava como ‘pivot’, sendo distribuidor de jogo, auxiliar do defesa e desequilibrador no ataque), da mais completa excelência. Não conheço e terei séria dificuldade em aceitar outra opinião, com uma única excepção que adiante mencionarei. Foram eles o Alvarinho e o Vieirinha. Nunca vi nada assim. Rápidos, extraordinariamente habilidosos, versáteis e, para cúmulo, bem comportados (desportivamente e não só), autênticos dominadores. Um deleite para os olhos e almas desportivas.

Dois avançados merecem-me aqui referência, geração mais nova, mas de enorme qualidade, o Virgílio (filho) e o Rui Aires, que souberam sair de mediania a nível nacional, daí os horizontes que puderam explorar, particularmente o Virgílio em terras italianas.

Daqui para a frente devo ter partido para outras ‘aventuras’, porque exceptuando o Jaime que foi um bom avançado, não se me acende nenhuma luz, Àqueles que foram ignorados neste prosa, as minhas desculpas, mas é apenas a minha memória, quase que ‘outsider’. Agora arregacem as mangas e mostrem a vossa sabedoria.

Além destas, outras situações/jogos me empolgaram bastante, fora da aura desta Vila. Aquela equipa nacional com os três ‘masters’ oriundos de Moçambique, Fernando Adrião (o tal médio que ocupa o primeiro lugar na minha memória), acompanhado por uma dupla de avançados demolidora, que, em minha modesta opinião, só fica a perder para os nossos primos Correia, Velasco e Bouçós, e apoiados por outro jogador de outra galáctica, que foi o Vaz Guedes. Outro deleite.

Não podia encerrar esta extensa enumeração sem mencionar o, talvez, mais extraordinário jogador de todos os tempos: Livramento. Este foi único, e mais não digo.

Agora atrevam-se, digam coisas.


Coisas soltas

As primeiras memórias concentram-se nas aventuras que aconteciam no Jardim após os jogos, onde, a bem dizer tudo podia acontecer, e terá acontecido.

O meu começo nestas (des)organizações foi nas árvores. Industriado por companheiros destas aventuras, mal terminavam os jogos, subíamos ás árvores para não sermos apanhados no turbilhão que se desenvolvia, com consequências muitas vezes sérias, e, aprendi um pouco mais tarde, completamente independente do resultado do jogo.

O que era preciso era haver porrada, porque sem isso o jogo ficava como que incompleto. Rotinas!

Nunca assisti, mas muitos me contaram, com toda a carga de veracidade, que era relativamente habitual os árbitros irem à doca, ou seja a turba pegava neles, dirigia-se à doca e atirava-os para dentro de água. Verdade? Lenda? Fico à espera.

Carros de árbitros danificados, isso vi, diversas vezes. Um árbitro em particular, Carlos Bica, apesar dos esquemas que sempre inventavam para evitar estragos, saiu daqui diversas vezes em más condições.

Cargas de polícia no jardim era outro dos hábitos instalados no final dos jogos e quando a agitação subia de tom, o que acontecia quase sempre. Como sempre há uns quantos justos a pagarem pelos pecadores. Era o caso do Frederico dos jornais, coitado, sentado num banco de jardim do lado da marginal, a ser abordado por um par de polícias que ‘varriam’ a zona, e não conseguindo responder à ordem para sair dali, a não ser tremelicando, como era da sua condição, levava umas quantas bordoadas, até que os polícias se distraíssem com outra coisa. Não poucas vezes com os putos a desafiar os ‘chuis’.

Noutra ocasião viu-se uma cena em pleno centro do jardim, em frente ao coreto, dois parceiros grandes e pesados em discussão fervorosa que acabou em pugilato. Até aqui nada de extraordinário, só que ambos eram amigos e velhos companheiros na terra e de jogatanas no clube, não me recordo dos nomes. Sócios do CDPA, claro, mas a cena passou-se a seguir a um Paço de Arcos/Benfica, cujo resultado também não me recordo, só que sendo um deles sócio e simpatizante do Benfica, os argumentos não se ajustaram, e vai daí ….

Nós, os putos, gostávamos mesmo era dos jogos com o Sporting, porque traziam sempre um pequeno grupo de apoio, que se sentava, invariavelmente, na esquina mais perto da marginal. Integravam esse grupo, duas varinas gordas e altas com o palavreado que se pode imaginar, constantemente durante o jogo, e que sentavam entre elas um homem, que aparentava ser mais novo, magrinho, sempre vestido de amarelo, e que tinha uma voz de falsete fina e estridente. Claro que utilizámos todos os truques para provocar esta gente, inclusivamente do lado de fora do ringue. Dava-nos gozo as suas reacções destemperadas, dos três.

Não posso terminar esta diatribe sem referir um nome incontornável na história de Paço de Arcos e do seu hóquei patinado.


XICO AROLHA (nem sei se está bem escrito)

Nunca contactei com o homem, mas vi-o em actividade, conheço o fruto de seu trabalho, vi o seu comportamento modesto e desinteressado. Fiquei seu fã. Ele nunca o soube, mas também não seria preciso.

A pergunta surge óbvia (e perdoem-me se cometo alguma vilania): a menção da sua extraordinária dedicação ao Clube e à terra estará perpetuada em algum lugar? Para que os vindouros saibam que havia gente capaz de pôr outros interesses (os do Clube) acima dos seus?


Os putos do Xico Arolha






Colaboração do Bardino Fernando Reigosa.