25 de agosto de 2009

FIGURAS DA VILA 04

PATRÃO JOAQUIM LOPES
1798-1890


HOWARD PRIMOROSE

Um salvamento atrás do outro, mas aquele que te dá fama nacional e até internacional ocorre em 1856.

Os Fortes de S.Julião e do Bugio disparam tiros de alarme, a escuna inglesa Howard Primorose encalhara nos baixios da barra. Tu, mais o teu filho Quirino e uns tantos voluntários, logo saltam para a falua. Seis horas a remar e não consegues aproximar-te da escuna, a falua é muito pesada para manobrar entre baixios. A essa conclusão já tinham chegado os tripulantes de um escaler da Alfândega e de um vapor de guerra. Regressas a Paço de Arcos e vais buscar a tua canoa de pesca, embarcação bem mais ligeira. Mais 6 horas e a escuna, sob o impacto das vagas, ameaça partir-se ao meio. Mas, finalmente, vocês conseguem resgatar o comandante e mais cinco marinheiros. Apenas morreu um que, apavorado com o navio a destroçar-se, se atirara precipitadamente à água.

Desembarcas os sobreviventes na estação fluvial de Belém e contas as peripécias ao Comandante da corveta Oito de Julho. Também lhe passas os nomes dos teu camaradas salva-vidas.

Pela tua bravura o governo britânico atribuí-te a Medalha de Prata da Rainha Vitória e à tua marinhagem dá umas libras de ouro para aquecer os bolsos...

E as autoridades portuguesas? Não piam, ignoram o salvamento... Circunstância que provoca comentários da imprensa. É então que um oficial do Bugio, metido a esperto, se apresenta como o herói do feito, pois fora ele quem avistara a escuna encalhada e dera o sinal de alarme. História logo revelada pelo Jornal do Comércio. Em consequência, El-rei D.Pedro V atribui ao espertalhão a Torre e Espada, a mais importante condecoração portuguesa. Mas passados dois anos, o mesmo Jornal do Comércio repõe a verdade publicando os relatos da tripulação da escuna inglesa e do Comandante da corveta portuguesa Oito de Julho. Por forte pressão da imprensa, é-te por fim atribuída a medalha de prata de D.Pedro e D.Maria.

Também é organizada uma subscrição pública para compensar financeiramente o teu heroísmo. Mas tu recusas, tu devolves, tu refilas:
- Quem tem que me remunerar é o Governo, não é o Povo, porque eu não dependo nem quero depender da caridade pública...



SALVA-VIDAS DE BELÉM PARA PAÇO DE ARCOS

Em 1856 o Governo manda instalar um salva-vidas na estação fluvial de Belém. Embarcação a remos, leve porém robusta, muito mais do que tua canoa de pesca. Contudo, durante os naufrágios na barra, continuas a ser o primeiro a chegar! Compreende-se: estás melhor localizado...

Em Fevereiro de 1858 a escuna inglesa British Queen encalha junto ao Bugio. Dada a violência do mar, com a tua canoa de pesca mal consegues aproximar-te. Com muita dificuldade salvas apenas o Comandante e um cãozinho que por ali andava a nadar aflito por entre as vagas. A propósito, dizes para os teus marinheiros:
- Aquele ali também tem vida e é o melhor amigo do homem...

Recolhes o cão e regressas a terra juntamente com o Comandante da British Queen.

Apesar dos fracos resultados do salvamento, a Coroa inglesa agracia-te com a Medalha de Ouro de Mérito Humanitário. Toda a tua tripulação é também agraciada com a mesma medalha, mas de prata.

Finalmente, em 1859, o Governo transfere o salva-vidas de Belém para Paço de Arcos e coloca-o sob as tuas ordens. Resmungas: "mais vale tarde que nunca".


Fim da Parte III

Texto de Fernando Correia da Silva

Colaboração do Bardino Vitor Martinez


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