3 de setembro de 2010

AS FESTAS DE PAÇO DE ARCOS 05

FESTAS DO SENHOR JESUS
DOS NAVEGANTES

No Diário de Noticias de 2.a feira, 1 de Setembro de 1900, refere-se:

"(...) o cortejo do círio da Nossa Senhora do Cabo, que partiu da Ajuda, em Lisboa, pelas 11 horas da manhã, (...) "com cyclistas, entre os quaes se viam algumas senhoras; 4 soldados de lanceiros 2; carro dos foguetes que se queimaram durante o trajecto; Charanga de lanceiros 2; piquete de cavallaria, comandado pelo Sr. Tenente Valentim; os três juizes com os cavalos ajaezados à antiga portugueza, empunhando o estandarte o Sr. Segurado; grupo de cavalleiros; três anjos a cavaIo, acompanhados por creados da casa real e ladeados de praças de cavallaria 4; Charanga de cavallaria 4; Berlinda da casa real puxada a duas parelhas; conduzindo a Santa, levando à estrubeira dois creados de libré; força de lanceiros; Carroagem conduzindo o reverendo prior de Cascaes padre Caetano Baptista, e seu acolyto; seguiam-se mais de cem trens de diversos feitos, conduzindo gente de todas as classes sociais, vários cyclistas e cavalleiros que não quizeram tomar lugar na frente.




Alguns carros e bicycletas iam lindamente enfeitados.

(...) O cortejo seguiu sem interrupção até Paço d'Arcos onde chegou à 1 hora da tarde.

Atreavessou a povoação que estava em festa também, e achando-se ali a banda dos marinheiros, esta formou e escutou o hymno nacional até à passagem do benzido cortejo, subindo ao ar numerosos foguetes".

"A chegada a Carcavellos foi à 1,50 minutos (...).




E a estas, muitas festas se foram seguindo, todas de fraternidade e solidariedade, em que o espirito religioso acompanha o profano, não podendo deixar de notar, no entanto, que os pescadores - núcleo inicial dos festejos, personificados pelo Patrão Lopes e seus descendentes - foram desalojados das suas antigas posições de destaque, mantendo somente o privilégio da condução do Senhor aos ombros - o que hoje é feito pelos bombeiros - e da liberdade de bailar ao ar livre, pois os actos "nobres" das festas, por exemplo as cavalhadas, eram "disputadas por distintos cavalheiros que vestiam caprichosamente e montavam fugazes cavalos, sendo os juizes fidalgos locais e pessoas gradas em vilegiatura".

No ano de 1903 foi construída especialmente uma praça de touros de madeira, com capacidade para 2000 lugares, tendo-se realizado uma garraiada a 17 de Setembro, logo seguida de uma corrida de touros a 4 de Outubro e outras a 16 e 18 do mesmo mês. Nelas brilharam os cavaleiros D. José de Mascarenhas, José Luís Bento e Fernando Ricardo Pereira (conhecido por Fernando de Oeiras), voltando-se a fazer uma corrida em 23 de Setembro de 1907, com 8 garraios.

A praça situava-se junto à estação da C.P.

Posterior e mais recentemente, também se fizeram corridas em Paço de Arcos na zona das Fontaínhas, com destaque para o cavaleiro Emídio Pinto aqui nascido e aqui residente.

Nas festividades de 1901 a 1908 as cerimónias religiosas e as demonstrações públicas de alegria compreendiam a missa, procissão, bênção de medalhas e bodo, na parte religiosa e na parte profana as cavalhadas, touradas, corridas de saco e de fitas, e subida de pau ensebado, sendo introduzido em 1904 provas de rio, como sejam um jogo de water-polo e corridas de barricas, que infelizmente não se realizaram por falta de alguns campeões. No entanto, a equipa do Sr. Taylor montou algumas barricas, o que deu lugar a divertidas situações, portando-se todos os desportistas de forma admirável segundo relato da Illustração Portugueza de 19/9.

"...Na praia muita gente. Os barcos embandeirados percorriam o rio, soavam risadas, ao sol alegre as faces resplandeciam e os hurras soavam por essa magnífica tarde luminosa.

O arraial e a quermesse duravam três dias - 9, 10 e 11 de Setembro - tendo Paço de Arcos recebido inúmeros forasteiros".




Em 1906, os devotos dos anos anteriores não colaboraram na realização dos festejos, pelo que estes não tiveram o brilho habitual, devendo-se a sua efectuação ao empenho de uma pequena comissão.

Durante a pregação, o oficiante verberou a falta de comparência dos homens do mar, que apenas estavam representados pelo patrão do salva-vidas, o que confirma a desmotivação a que atrás nos referimos.

Com o advento da República as festas religiosas foram interrompidas, como citámos, encontrando-se apenas noticias de provas náuticas, feira franca e concertos musicais formados pelos bombeiros em 1912, voltando a efectuar-se em 30 de Setembro de 1928, dois dias após a entrega do uso e administração da Capela à Corporação Fabriqueira do Senhor Jesus dos Navegantes.

Após missa solene celebrada de manhã, distribuiu-se da parte da tarde um bodo a 50 pobres, saindo a procissão com os quatro andores habituais - São Sebastião, Nossa Senhora da Bonança, Menino Jesus e Senhor Jesus dos Navegantes - mais os de Santa Teresinha e Nossa Senhora de Fátima. No dia seguinte decorreu a festa de São Sebastião.

A 8 e 9 de Setembro de 1928 o trajecto percorrido pela procissão foi ampliado até ao forte da Gíribita, no limite nascente de Paço de Arcos passando no regresso pelo monumento do Patrão Lopes.







Colaboração do Bardino Vitor Martinez.


1 comentário:

Fernando Reigosa disse...

Este conjunto de pesquisas e prosas sobre as festas de Paço de Arcos é simplesmente extraordinário, magnífico, e daqui mando um abraço sentido ao meu amigo e companheiro Vitor Martinez, em reconhecimento da sua postura relativamente a esta terra, ás suas gentes eá sua história, ni fim razão primeira da existência deste grupo. Extraordinário, também, a quase ausência de comentários e de reconhecimento pela grandeza do trabalho. Não é para isso que trabalhamos, mas que custa, custa.