PATRÃO JOAQUIM LOPES
1798-1890
1798-1890
EL-REI D.LUÍS
Em 1859 salvas o Comandante e mais dois tripulantes do Stephanie, navio francês também encalhado no Bugio. És condecorado com a "Medalha de Dedicação e Mérito" e também com a "Medalha de Valor e Filantropia", ambas francesas.
A 19 de Fevereiro de 1864 salvas grande parte da tripulação do bergatim espanhol Achiles. A Espanha atribui-te a medalha de ouro "Distinção Humanitári".
Três dias depois, a 22 de Fevereiro, salvas toda a tripulação do iate português Almirante. Mais uma vez o Governo português nem sequer pia. Mas a 24 de Fevereiro El-rei D.Luís bate à porta da tua casa humilde. Toda a tua família e toda a população de Paço de Arcos ficam em polvorosa.
O monarca pergunta e tu vais contando os teus feitos, rude linguagem de lobo do mar, porém sincera até mais não poder. El-rei convida-te a visitá-lo no paço de Caxias, povoação vizinha de Paço de Arcos, e onde pousava transitoriamente. Aceitas o convite e no dia seguinte está no Paço de Caxias.
Entras, El-rei abraça-te e coloca-te ao pescoço o colar da Ordem da Torre e Espada, a mais alta condecoração portuguesa. E tu, rijo homem do mar, não tens vergonha de, comovido, soluçar contra o peito do teu monarca.
Mas uma coisa são as gloriosas condecorações, outra é a penúria em que tu vives. O Governo não se mexe, não quer saber do que está a acontecer em Paço de Arcos. Porém o Marquês Sá da Bandeira, deputado da Oposição, dispara o seu discurso como se fosse um arcabuz e o Governo, finalmente, abre os olhos: com a aprovação prévia do Parlamento, atribui-te uma pensão anual de 240 mil réis, transmissível à tua mulher e filhas, em caso de passamento teu. Se tu salvaste muitos da fúria das águas, Sá da Bandeira salvou-te da fúria da miséria...
As coisas começam a compor-se: em 1866 és nomeado mestre da Armada e graduado segundo-tenente, em diploma assinado por El-rei e pelo Visconde da Praia Grande.
BALANÇO
Em 1882, com 85 anos de idade e já tolhido das pernas, mandas que te amarrem ao leme e ainda tentas socorrer o Lucy, lugre francês. Felizmente o teu filho Quirino António, que estava fora de Paço de Arcos, ouviu o disparo do Forte de S.Julião da Barra e acorre a tempo de te obrigar a passar para a falua e é ele quem, no salva-vidas, efectua o salvamento.
Tomás Ribeiro, o poeta, dedica-te uma quadra:
Quando o Patrão já velho,
ao pé do mar assoma,
só de o encarar, o oceano,
se atemoriza e doma.
ao pé do mar assoma,
só de o encarar, o oceano,
se atemoriza e doma.
Em 1885 o poeta e o Marquês de Fronteira, teus amigos, mandam inscrever esses versos numa lápide que é afixada no frontispício da tua casa.
Fazes o balanço da tua vida, dizes:
- Se não me falham as contas, nem a memória, socorri mais de 53 navios e salvei mais de 300 vidas.
ULTIMATUM
Em 1890, Ultimatum da Inglaterra a Portugal, por causa dos territórios africanos que as duas nações disputam. Tens 92 anos mas ainda a necessária lucidez e fibra para devolver ao governo inglês as condecorações com que ele te agraciou. E para convencer os teu filhos a seguirem o teu exemplo.
Morres a 21 de Dezembro do mesmo ano. Consternação e luto em Paço de Arcos, as lojas com as portas fechadas, as embarcações a rumarem para a praia com bandeiras a meia-haste. A Marinha organiza o teu funeral, barcos de guerra a escoltarem o teu corpo até ao Arsenal, junto ao Terreiro do Paço, em Lisboa. No cortejo, por decisão de El-rei D.Carlos, também se integra o iate Amélia, assim chamado em homenagem à rainha sua esposa. Finalmente és sepultado no cemitério de Oeiras.
Quando hoje atravesso Paço de Arcos e vejo o teu busto de bronze no parque fronteiro ao mar, e depois o Instituto de Socorros a Náufragos que tu inspiraste e a Rainha D.Amélia concretizou, tenho sempre a sensação, não sei porquê, que ando contigo a remar rumo ao Bugio.
Fim da Parte IV
Texto de Fernando Correia da Silva
Colaboração do Bardino Vitor Martinez
2 comentários:
Não conhecia todos os pormenores deste herói da nossa terra...confesso que fiquei de lágrima no olho.
Obrigada por esta partilha.
Beijos
Ana
Já conhecia bem toda a história.
Curiosamente comecei a aperceber-me de toda a dimensão deste Homem, em Olhão, quando já era habitante desta 'mais formosa Vila do País' há mais de vinte anos. Quase se poderia dizer que era uma vergonha, mas tenho para mim que mais vale tarde que nunca.
Aqui está um profundo e bem trabalhado artigo que farei as diligências para divulgar por todos os meus amigos (não Bardínicos), para lhes 'picar o ego. Resultará? Como diria um amigo meu "on sais jamais".
Reafirmo as 'encomendas' feitas anteriormente no trabalho publicado ùltimamente.
Uma vez mais, parabéns e Obrigado, companheiro Vitor.
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