4 de julho de 2010

FIGURAS DA VILA 23

José PRACANA Martins


antes


O Zé Pracana, como os amigos o conhecem, companheiro de muitos Bardinos, nos tempos da adolescência, tornou-se uma autêntica enciclopédia do Fado, a verdadeira.

Duas histórias esclarecedoras:


- o primeiro Fado foi editado pela Casa Chinesa em 1904 (dixit);

- os característicos cachecol e boné, imagem de marca do Alfredo Marceneiro, foram ‘inventados’ para o Alfredo Duarte Júnior, seu filho, mas por ter gostado, ele apropriou-se dos ‘enfeites (idem).


Esteve no “Câmara Clara”, segunda-feira dia 21 de Junho passado, a propósito da Candidatura Portuguesa do Fado a Património da Humanidade. Debitou conhecimentos, historietas, desfilou os nomes que mais o marcaram, um sem fim de detalhes que, talvez, mais ninguém ligado ao Fado poderá suplantar.


Açoriano, reza a sua biografia, cedo veio para Paço de Arcos, animando o pessoal no seu jeito trocista e brincalhão. Nesta matéria, fez parelha única com o Zé Arrobas. Frequentou com a maioria de nós o Liceu Nacional de Oeiras, onde foi activo participante nas ‘guerras’ Paço de Arcos/Oeiras.


Não referem, decerto por desconhecimento, mas já nesses tempos era um imitador extraordinário. Tudo imitava. O que nos dava mais gáudio era, ouvi-lo imitar os discursos dos políticos – Salazar, Américo Tomás, Marcelo Caetano, etc. Mas quem ele preferia era a Amália e o Marceneiro, de quem viria a tornar-se grande amigo (de ambos).



Também não refere a biografia, (http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/126844.html onde se pode ouvir uma belíssima imitação do Alfredo Marceneiro), que os primeiros contactos com o Fado (maior) foram nesta Vila com o Cavalo Malandro e o Fernando “Galo”, com quem acompanhou durante um tempo.



Falou dos nomes que lhe são mais caros: Alfredo Marceneiro (a arte fadista na sua essência), grande amigo e companheiro tal como João Braga (a melhor dicção), Conde de Sabrosa, Maria Teresa de Noronha, Lucília do Carmo, Carlos Ramos, Manuel de Almeida, os guitarristas Armandinho – seu mestre - e Martinho d’Assunção e Carvalhinho habituais acompanhantes de Alfredo Marceneiro, e também dos incontornáveis Toni de Matos, Carlos do Carmo, Amália Rodrigues, Hermínia Silva, Teresa Tarouca.



depois



“Os Bardinos” querem prestar homenagem ao amigo e companheiro doutros tempos, deixando aqui 4 fados que caracterizam, aleatoriamente e em nossa opinião, o seu percurso:

‘Lenda das Rosas’, que ele cantava para lembrar Marceneiro, o qual gostava particularmente deste fado;





‘Pelas Ruas da Cidade’ em memória de todos os muitos amigos (como costuma dizer) que com ele calcorrearam as ruas e becos da grande Lisboa;





‘Campino’
, porque gostava de ‘fugir’ para outros estilos, ou antes, dos temas mais tradicionais;







‘Um Fadista Já Cansado’, que se enquadra na perfeição com o Zé Pracana, e que pensamos ser o seu fado predilecto;





Muito mais haveria a dizer deste Paçoarquense adoptado. Nunca esqueceu a terra que o marcou no crescimento adolescente. Tive oportunidade de com ele conversar em Macau quando aí acompanhou o falecido Carlos Zel, em 1997, para uma série de espectáculos no afamado Clube Militar, e posso testemunhar que a sua memória desta Vila estava bem viva, perguntando por todos que por aqui com ele conviveram. Mas este não é o espaço nem o momento.


Como diria Vinícius De Moraes ‘SARAVÁ’ Zé.

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Terminamos com os versos da ‘Lenda das Rosas’, para consumo dos fadistas amadores (atenção Rafael e Sampaio):

Lenda das Rosas
Linhares Barbosa / Popular "Fado das Horas"
Repertório de José Pracana


Na mesma campa nasceram
Duas roseiras a par
Conforme o vento as movia
Iam-se as rosas beijar

Deu uma, rosas vermelhas
Desse vermelho que os sábios
Dizem ser a cor dos lábios
Onde o amor põe centelhas
Da outra, gentis parelhas
De rosas brancas vieram
Só nisso diferentes eram
Nada mais as diferençou
A mesma seiva as criou
Na mesma campa nasceram

Dizem contos magoados
Que aquele triste coval
Fora leito nupcial
De dois jovens namorados
Que no amor contrariados
Ali se foram finar
E continuaram a amar
Lá no além, todavia
E por isso ali havia
Duas roseiras a par

A lenda simples singela
Conta mais, que as rosas brancas
Eram as mãos puras francas
Da desditosa donzela
E ao querer beijar as mãos dela
Como na vida o fazia
A boca dele se abria
Em rosas de rubra cor
E segredavam o amor
Conforme o vento as movia

Quando as crianças passavam
Junto à linda sepultura
Toda a gente afirma e jura
Que as rosas brancas coravam
E as vermelhas se fechavam
Para ninguém lhes tocar
Mas que alta noite, ao luar
Entre um séquito de goivos
Tal qual os lábios dos noivos
Iam-se as rosas beijar.





Este ‘parlapié’ foi feito sob recomendação do Bardino Nortadas.








Saudades de Mil Lembranças





Homenagem a Marceneiro








Nota - Fotos e videos retirados da net, a cujos autores deixam aqui, Os Bardinos, os respectivos agradecimentos.



Colaboração do Bardino Fernando Reigosa.


2 comentários:

Anónimo disse...

O Zé Pracana foi meu colega de turma, num dos meus 5ºs anos, e daquilo que a minha memória alcança, guardo dele um bom amigo e principalmente, a recordação daqueles tempos de liceu (e de turma), em que ele, juntamente com o Bagão (de capa e batina), punham a cabeça em água aos professores que tinham a desdita de nos dar aulas.

Era mais o tempo que estavam fora da sala de aula que lá dentro (pois a ordem de saída dos dois era muito rápida), mas quando por lá ficavam mais tempo, aquelas aulas eram um "terror" para os professores e faziam as delícias para a restante turma, que era um "pouco" mais contida.

Zé, se leres estas linhas, onde quer que estejas, de manhã, à tarde ou à noite, recebe um abraço de amizade, deste que se considera teu amigo.

Um abraço grande Zé Pracana do
Vitor Martinez

Ana Oliveira disse...

Tanto que não conheço desta terra que aprendi a considerar minha.

Obrigada