28 de janeiro de 2010

MONOGRAFIA DE PAÇO DE ARCOS (Apontamentos) 10


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Associações de recreio

Clube Desportivo de Paço de Arcos
- campeão nacional de oquei em patins -


Um grupo de rapazes de Paço de Arcos, aproveitando-se da existência de um rink de patinagem, resolveu, em Agosto de 1938, formar um clube de oquei em patins.

Para realizarem o seu desiderato quotizaram-se entre si e fizeram uma subscrição, que, graças ao bairrismo desta gente, rendeu o suficiente para a criação do clube.


Passado pouco tempo ajustaram-se dois encontros com o Rádio Clube Português. Estes dois desafios tiveram o condão de não só entusiasmar os habitantes da vila, mas também de aliar ao grupo inicial outros rapazes. O Paço de Arcos Oquei Clube era uma realidade.


A equipa que, pela 1ª vez representou o P.A.H.C.
oficialmente, em 11 de Junho de 1939.
Da esq. para a dt.:
Manuel Pórcio, Fernando Pires Moreira, José da Mata Raposo,
Leocádio Pórcio e Manuel Gomes.



Em 1939, as equipas, orientadas por Artur Gomes, começaram a disputar o campeonato de Lisboa.

E, foi assim que em 1940 conseguiu um honroso 2." lugar no campeonato de Lisboa, ficando à frente de equipas categorizadas e experimentadas como o Sporting e o Benfica.


Em 1941 ganhou a Taça de Honra. Em 1942 obteve o título de campeão de Portugal.

No ano seguinte, 1943, ganhou a Taça de Honra e o campeonato de Lisboa.

Depois, de vitória em vitória, o Paço de Arcos Oquei Clube caminhou firme e rapidamente até alcançar a posição que hoje desfruta da melhor equipa portuguesa de oquei em patins.



A equipa que ganhou o 1º título oficial para o P.A.H.C.
De pé da esq. para adt.: José Raposo, Manuel Gomes, Carlos Vieira
e Artur Gomes (treinador). Em baixo: Jesus Correia,
Emídio Pinto e António Henriques.



Em 1944 fundiu-se com outros clubes e tomou a designação de Clube Desportivo de Paço de Arcos.

Neste ano ganhou a Taça de Honra, Campeonato de Portugal, Campeonato de Lisboa (1." e 2." categorias) e Torneio de Abertura. Obteve todos estes títulos numa só época.


A segunda categoria deste clube conseguiu ganhar o Campeonato de Lisboa (2ª. categoria) nos anos de 1942, 1943, 1944 e 1946.

O resultado mais expressivo em encontros oficiais de primeiras categoria verificou-se contra o Cascais (20-0).

No ano de 1945 ganhou apenas o Campeonato de Portugal.

Compondo-se apenas de elementos de Paço de Arcos, as suas equipas contam os melhores jogadores do País, tais como os internacionais Jesus Correia e seu primo Correia dos Santos, que são, indubitavelmente, os melhores avançados portugueses de todos os tempos.


1947 - Campeão Nacional
De pé, da esq. para a dt.: Jesus Correia, Emídio Pinto
e José Raposo. Em baixo, pela mesma ordem:
Manuel Gomes, Correia dos Santos e António Henriques.



Em Maio de 1916 o Clube deslocou se a Espanha onde disputou quatro jogos, todos com resultados vitoriosos e as suas exibições foram de tal maneira convincentes, que a imprensa espanhola não lhe regateou aplausos, tendo classificado os jogadores do Clube Desportivo de Paço de Arcos como «verdadeiros mestres do oquei em patins».

Para o extraordinário sucesso desta modalidade de desporto em Paço de Arcos contribuíram, além do espírito desportista e bairrismo dos jogadores, muitas pessoas, destacando-se Domingos Silva e Leonel Costa como treinadores dedicados e proficientes.

A primeira categoria de oquei em patins do Clube Desportivo de Paço de Arcos, que jogou em Espanha, onde obteve quatro vitórias e que em Portugal já ganhou cerca de setenta taças, é constituída pelos seguintes jogadores: Emídio Pinto (capitão do grupo), António Henriques, Manuel Gomes, Jesus Correia, Correia dos Santos e José Raposo (suplente).

Segunda categoria: António Aguiar Valente, Armindo Neves, Rogério Maia, João Trindade e José Raposo.

Finalmente, a terceira categoria compõe-se de: Manuel Antunes, Horácio Matias, António do Carmo, Carlos Ramos e Rui Lince.

Paço de Arcos criou nome em todo o País e no estrangeiro, principalmente na Espanha e na Suíça, por triunfos conseguidos pelo seu grupo de oquei em patins, que é hoje, como acima fica dito, a melhor equipa portuguesa desta actividade desportiva.

O Clube Desportivo de Paço de Arcos tem as seguintes secções: atletismo, basquetebol, futebol, ginástica, natação, oquei e patinagem, remo, ténis, tiro e vela.


A juventude radiosa de Paço de Arcos voltou-se para o mar. E hoje já tem muitos e bons velejadores. Voltaram de novo as regatas e provas de natação.




Regatas de Paço de Arcos


Este mapa é a cópia fiel dos que a Real Associação Naval usava nas regatas de Paço de Arcos em 1852 1853, 1854, 1855, 1056. etc., das quais o Sr. Conde das Alcáçovas era a alma e os Srs. Abei Powell Dagge, L. F. Moser e D. Garland os seus mais devotados colaboradores.


Aspecto de regatas realizadas em Paço de Arcos.

Mais tarde é que outros nomes se evidenciaram em colaboração com estes, tais como: os Srs. Visconde da Carreira, Francisco Soares Franco, Marquês de Fronteira, Frederico F. Pinto Basto, José Lourenço da Luz, Duque da Terceira, Marquês de Ficalho, Marquês das Minas, Conde de Farrobo, Barão de Lazarim e tantos outros.


Outro aspecto de regatas realizadas em Paço de Arcos.


A Real Associação Naval, fundada em 1856, foi o único clube naval fundado por decreto régio, por proposta do Sr. Visconde de Atouguia e representação do Sr. Conde das Alcáçovas a Sua Magestade.




Orfeão de Paço de Arcos

Grupo do antigo Orfeão de Paço de Arcos.

Em princípios do ano de 1929, alguns entusiastas da música coral, residentes em Paço de Arcos, pensaram em organizar um orfeão e para a sua direcção artística convidaram o maestro Gustavo de Lacerda que, da melhor vontade e desinteressadamente, acedeu àquele pedido.

Organizado o grupo, à medida que se intensificavam os ensaios, aumentava o entusiasmo e também o número de orfeonistas, até que em 15 de Outubro do mesmo ano o Orfeão fez a sua apresentação no Cine-Teatro desta vila, em espectáculo completo, com duas partes preenchidas pelo Orfeão e uma de solos de canto, piano e violino, desempenhada por orfeonistas.

O sucesso foi retumbante, o que deu em resultado o grupo aumentar, sendo agregados os naipes femininos, que mais realce vieram dar com a frescura das suas vozes.


Instalou-se a sede no Casino Vitória e criaram-se aulas de solfejo, piano e violino, regidas pelas professoras D. Dália de Lacerda, D. Maria Isabel de Sales Baptista e maestro Gustavo de Lacerda. Os seus resultados em breve se manifestaram pela criação de uma pequena orquestra de salão, que tomou parte em vários espectáculos.

Também foi organizado um grupo teatral, sendo desempenhadas algumas peças musicadas, como as operetas Gheisa, Ceifeiras do Alentejo. Serranos, etc., e algumas comédias.

Além de muitos concertos realizados em Paço de Arcos, o Orfeão também se fez ouvir, sempre com muito agrado, em Cascais, Torres Vedras, Queluz, Dafundo e Lisboa num concerto oferecido aos ceguinhos do Asilo-Escola António Feliciano de Castilho.


Cine-Teatro de Paço de Arcos



Entre os vários artistas que colaboraram nos concertos do Orfeão de Paço de Arcos, contaram-se a cantora D.Isabel Bergstom, o saudoso tenor José Rosa, o tenor Almeida Cruz e a pianista D. Dália de Lacerda.

Efémera foi a vida do Orfeão. Em quatro anos de existência, colheu fartos aplausos nas suas noites de glória. A dispersão de alguns dos seus melhores elementos, a falta de tacto administrativo de outros, foi a sua ruína. E foi pena que se extinguisse, porque Paço de Arcos podia orgu¬lhar-se de ter um dos melhores agrupamentos corais de todo o País.




Casino de Paço de Arcos


Na Avenida Marquês de Pombal encontra-se um edifício que tem uma larga varanda envidraçada e na qual se lê a seguinte legenda: «Clube Desportivo de Paço de Arcos».

É aqui que está instalado o clube que deu brado no seu tempo Foi inaugurado, no dia 9 de Setembro de 1875, sob a presidência do Sr. Marquês de Fronteira. Houve baile muito concorrido e pomposo.


Brilhantes festas ali se realizaram com a assistência da alta aristocracia veraneante e, algumas vezes, tiveram a presença da família real e dos próprios soberanos.

Era, nesse tempo, iluminado a gás.

Os pares dançavam ao compasso das valsas, mazurcas ou polcas, executadas por um pianista, que atendia os pedidos da assistência. As noites de domingos e quintas-feiras eram de gala e, então, havia quarteto.


As senhoras paramentavam-se a preceito, sendo considerado de muito bom gosto, nessa época, vestirem-se de claro — saia de lã e blusa de seda. Diz Maria Archer que «neste clube se murmurava de tudo — dos vestidos, dos namoros, das relações, dos parentescos, do que era e do que queria parecer.

Ao som das valsas enforcavam-se reputações. Vespeiro de disputas, que só o perpassar de gerações acalmou definitivamente».


É neste edifício que, actualmente, está instalado o Clube Desportivo de Paço de Arcos.






Tauromaquia — O Cavaleiro Fernando Ricardo Pereira


Em Julho de 1901 saiu, em número único, O cavaleiro — jornal dedicado ao exímio cavaleiro Fernando Ricardo Pereira pelos seus amigos de Oeiras e Paço de Arcos.

Transcrevemos do referido jornal o seguinte: «constituem as touradas na Península o divertimento nacional por excelência aquele que, dentre todos, nos faz vibrar a alma por um estranho estímulo em que à recordação de brilhantes lutas passadas se alia a ideia dum espectáculo grandioso de luta entre força inteligente e educada e a força selvagem e mil vezes superior da fera que deante de nada recua, que de nada se teme! Compraz-se o homem em mostrar que, débil do corpo mas forte de engenho lhe é fácil iludir força bem superior. Hoje em dia, era de civilização e progresso, parece que mais do que nunca se procura pôr em prática o velho aforismo romano — mens sana in corpore sano - e por toda a parte o Sport recebe enorme incentivo. Lá fora o exercício físico é considerado por todos como cousa necessária à saúde e portanto à vida. O divertimento nacional, aquele que mais fundamente impressiona o sentimento popular e mais comoção lhe dá é a tourada. Das nossas especialidades tauromáquicas uma ressai e se salienta dentre todas as outras pela sua dificuldade e pelo seu brilhantismo: é o toureio a cavalo. É talvez o ramo mais completo e difícil da arte de tourear; com muita soma de justiça nos podemos vangloriar dessa especialidade pertencer genuinamente à lide portuguesa».

Fernando Ricardo Pereira foi um dos que se dedicou a essa difícil arte.

Este exímio cavaleiro se não foi uma notabilidade na tauromaquia nacional foi, na verdade, um dos cavaleiros mais arrojados e um dos que mais procurou variar o trabalho sem nunca deixar de observar os preceitos da arte.

Logo na tarde em que fez a sua estreia como amador, em uma corrida promovida por sua própria iniciativa, na extinta Praça da Cruz Quebrada, a 19 de Junho de 1892, Ricardo Pereira poude evidenciar-se em toureiro elegante e valente.

Em uma tourada realizada na Praça de Vila Franca, na tarde de 13 de Junho de 1893, o seu trabalho foi de tal ordem que, achando-se Alfredo Tinoco num camarote assistindo à corrida, recebeu Fernando Pereira daquele insigne cavaleiro a maior honra a que até então podia aspirar: Tinoco desceu á arena e abraçando-o efusivamente aconselhou-o a prosseguir na carreira tão brilhantemente encetada!

As palavras daquele chorado toureiro, uma das maiores celebridades tauromáquicas, parece terem encontrado eco no ânimo de Fernando, porque demonstrando nas primeiras corridas em que entrou, aliar à sua natural propensão uma serenidade e sangue frio notáveis, em breve conseguiu trocar o nome de amador pelo de artista, recebendo a alternativa das mãos de Manuel Mourisca, o glorioso mestre dos nossos cavaleiros, na corrida efectuada no Campo Pequeno em 21 de Abril de 189í.

De então para cá, Fernando deu as mais irrefutáveis provas do seu valor, evidenciando de ano para ano dotes artísticos que nem a todos é lícito conquistar.

Ao Exmo. Sr. Fernando Ricardo Pereira, distinto amador tauromáquico, pela ocasião do seu debute na Praça do Campo Pequeno, em 29 de Outubro de 1093:

Aqui n'esta arena onde a arte se apruma,
Nivelam-se artistas de sumo primor:
As provas do génio que em ti predomina,
Te elevam à glória de um bom lidador.


Era pena então ficar-se
Envolvido em densas trevas
Esse génio, em que te elevas,
Justo foi aqui mostrar-se.

Destemido cavaleiro,
Qual artista consumado.
És glória dos conterrâneos,
Que sem favor te hão louvado.

Prossegue, não canses, que exímios toureiros,
Já citam teu nome de excelso amador!
Aceita estes versos, não são lisongeiros,
Pois só me inspirou teu denodo e valor!
B. H. C.

Paço de Arcos teve durante muitos anos uma bela praça de touros.

Filipe Taylor foi no seu tempo um dos melhores forcados e atletas do País.


Dr. João Moreira Rato, embora novo na arte de tourear, é presentemente, pelo seu valor e muito já evidentemente demonstrado, um cavaleiro popular e querido dos amadores de touradas.





Filipe Taylor —O atleta de maior popularidade no seu tempo

Filipe Taylor

Vive nesta vila uma figura veneranda que foi no último quartel do século XIX o primeiro atleta português em pesos e alteres.

Embora de origem britânica, Filipe Taylor, foi sempre e continua sendo um bom português, tendo começado a sua vida desportiva como ciclista, em que fez na sua bicicleta percursos notáveis.

Como atleta, o seu trabalho era realmente de valor.


Pondo uma barra especial conhecida por «barra do Filipão» que pesava 90 quilos, ao dispor do público, antes do espectáculo para alguém a levantar, que nunca ninguém conseguiu, era depois quando ele a erguia num braço só, o motivo para uma apoteose popular.

Em 1896, toda a gente de Lisboa conhecia o homem das forças do Real Ginásio Clube Português.

Como moço de forcados amador, nas praças do Campo Pequeno e Algés e em diferentes da província, ele distinguiu-se sempre e foi sempre alvo de estrepitosas ovações.



Texto de M.P. Videira em, "Monografia de Paço de Arcos (Apontamentos), 1947.




Colaboração do Bardino Vitor Martinez.



2 comentários:

Fernando Reigosa disse...

Pergunto-me e pergunto;
Haverá por esse Portugal fora, Vila modesta e rebeirinha com mais rica história que esta nossa?
Não há. E mesmo lá por fora não acredito.
Já andei por muito sítio e li muita coisa (interessa-me), mas nada que, a esta dimensão, se aproxime.
Só, de facto, grandes metrópoles, e mesmo assim, 'mal-acomparado'.

Fernando Reigosa disse...

O tal de Philip Taylor é o 'ciclista' que a Liliana diz ter a bicicleta no museu do Caramulo, e que era 'um grande desportista', penso que significando que praticava vários desportos.
Por sinal era também grande amigo de um meu tio, Norman Philips, que fo final da ultima grande guerra, aportou a Lisboa, e já não saiu, preso de amores por uma minha tia, entretanto já falecida. Com ele aprendi algumas expressões 'cockney'.