24 de janeiro de 2010

AS ESTÓRIAS DA BARDINAGEM 05

OK, KO ou Hóquei???????


Tal tá a moenga, hem?

Numa terra que respira hóquei em patins mais e melhor que qualquer outra neste planeta, onde quase toda a gente nasceu ‘em cima de patins’, onde quase toda agente transporta uma miríade de genes hóquistas no sangue, há não sei quantas gerações, e ninguém se ‘chega à frente’ com historietas, recordações e outras ‘balhanas’ hóquistas?

E eu, puto que nunca se conseguiu sequer equilibrar em cima dos patins, que chego a esta terra em plena áurea mundial do CDPA, sem sequer perceber a maioria dos nomes importantes dessa saga, sem sentir o apelo, que sempre me espantou com a loucura do ‘chamado’ aos jogos de hóquei no simpatiquíssimo ringue Leocádio Pórcio; eu é que vou ter que puxar pelo ‘bestunto’ para dizer meia dúzia de barbaridades?

Valha-me Deus, gente inepta.

Para vossa vergonha vou desatinar meia dúzia de coisas e episódios, que, muito provavelmente, vai obrigar uns quantos a virem à liça corrigir-me. Ao menos isso.


Os Artistas

Nos princípios dos anos 40, quando cheguei a Paço de Arcos, ouvindo conversas do meu pai com as visitas e amigos, tomei consciência que o CDPA era o melhor Clube do mundo, em termos desportivos, e, apenas no hóquei em patins, sendo como tal conhecido e respeitado por todo o lado.







Não me recordo de ter visto jogar o Emídio Pinto, mas ainda me lembro do Manuel Gomes, do António Henriques, do Jesus Correia e do Correia dos Santos. Seguramente que me esqueço de alguém. Que me desculpem.

Mais tarde, já eu por conta própria, ainda jogava o velho Correia dos Santos, tive oportunidade de ver uns quantos que fizeram nome, e que mantiveram, de algum modo, o nome de Paço de Arcos em alta.


Vilaverde, o único guarda-redes que eu vi recusar a máscara, por atrapalhar, dizia ele, que terá sido popularizada já ele era guarda-redes de enorme nível. Daí umas quantas marcas na cara que ainda perdurarão.

O Campos, defesa raçudo, que não hesitava em ‘aviar’ umas quantas ‘sticadas’ em quem o aborrecesse, dentro e fora do campo. Recordo-me de um jogo, julgo que com o Sporting, em que alguém, penso até que mulher, sentada na bancada terá desferido impropérios inaceitáveis, para o Campos, que motivou resposta rápida com duas ou três ‘sticadas’ para a bancada, atingindo várias pessoas. Não me lembro de como acabou, porque, miúdo na época, logo que havia confusão, estava instruído para sair de cena.


O Silvino Valente, jogador elegante, bem comportado, muito bom guarda-redes.


O Virgílio, médio de grande habilidade e virtuosismo, daqueles que decidem os jogos, mas quando dava para endurecer, nunca deixava o seu amigo Campos sozinho.


O Carlos Abreu, porventura uma das melhores ‘produções’ do Xico ‘Arolha’ (falaremos a seguir). Avançado virtuoso, a um tempo ágil e poderoso, que muitos estragos fez nas equipas adversárias, daí a ‘procura’ e o assédio que teve pelas equipas mais ricas.


O Pompeu defesa ainda mais poderoso, mas com deficit de agilidade que compensava com enorme entrega, inclusive do seu peso.


O Rosa Soares, mais conhecido por Bacalhau, que era um avançado extremamente habilidoso e rápido, que tinha uma característica única (digo eu). Quando a equipa estava em queda, sem conseguir reagir, ou, e sobretudo, algum adversário lhe ‘ia aos fagotes’, então as enormes potencialidades deste eclético jogador simplesmente explodiam. Um deleite para a vista.


Quatro brilhantes guarda-redes marcaram sucessivamente (a ordem não garante fidelidade ao tempo), Carlos Abrantes (Camané), Louro, Rui Monteiro e “Nicha” da Silva, a excelência da defesa das redes Paçoarquenses.


Outros tantos defesas, com a mesma premissa temporal, marcaram a minha memória; Américo Bravo, suficientemente competente, Alfredo(inho), fininho mas duro quanto baste para suprir algum deficit habilidoso (nunca comprometeu), José Soares, também suficiente para ‘equilibrar’ a equipa, e o Rafael ‘Cabecinha’, este já com um andamento bem diferente, capaz de promover desequilíbrios com a qualidade do seu jogo e o empenhamento notável.


Mas as delícias supremas da minha memória, e dos companheiros com quem eu conversava à época, residem em dois médios (que então eram quem funcionava como ‘pivot’, sendo distribuidor de jogo, auxiliar do defesa e desequilibrador no ataque), da mais completa excelência. Não conheço e terei séria dificuldade em aceitar outra opinião, com uma única excepção que adiante mencionarei. Foram eles o Alvarinho e o Vieirinha. Nunca vi nada assim. Rápidos, extraordinariamente habilidosos, versáteis e, para cúmulo, bem comportados (desportivamente e não só), autênticos dominadores. Um deleite para os olhos e almas desportivas.

Dois avançados merecem-me aqui referência, geração mais nova, mas de enorme qualidade, o Virgílio (filho) e o Rui Aires, que souberam sair de mediania a nível nacional, daí os horizontes que puderam explorar, particularmente o Virgílio em terras italianas.

Daqui para a frente devo ter partido para outras ‘aventuras’, porque exceptuando o Jaime que foi um bom avançado, não se me acende nenhuma luz, Àqueles que foram ignorados neste prosa, as minhas desculpas, mas é apenas a minha memória, quase que ‘outsider’. Agora arregacem as mangas e mostrem a vossa sabedoria.

Além destas, outras situações/jogos me empolgaram bastante, fora da aura desta Vila. Aquela equipa nacional com os três ‘masters’ oriundos de Moçambique, Fernando Adrião (o tal médio que ocupa o primeiro lugar na minha memória), acompanhado por uma dupla de avançados demolidora, que, em minha modesta opinião, só fica a perder para os nossos primos Correia, Velasco e Bouçós, e apoiados por outro jogador de outra galáctica, que foi o Vaz Guedes. Outro deleite.

Não podia encerrar esta extensa enumeração sem mencionar o, talvez, mais extraordinário jogador de todos os tempos: Livramento. Este foi único, e mais não digo.

Agora atrevam-se, digam coisas.


Coisas soltas

As primeiras memórias concentram-se nas aventuras que aconteciam no Jardim após os jogos, onde, a bem dizer tudo podia acontecer, e terá acontecido.

O meu começo nestas (des)organizações foi nas árvores. Industriado por companheiros destas aventuras, mal terminavam os jogos, subíamos ás árvores para não sermos apanhados no turbilhão que se desenvolvia, com consequências muitas vezes sérias, e, aprendi um pouco mais tarde, completamente independente do resultado do jogo.

O que era preciso era haver porrada, porque sem isso o jogo ficava como que incompleto. Rotinas!

Nunca assisti, mas muitos me contaram, com toda a carga de veracidade, que era relativamente habitual os árbitros irem à doca, ou seja a turba pegava neles, dirigia-se à doca e atirava-os para dentro de água. Verdade? Lenda? Fico à espera.

Carros de árbitros danificados, isso vi, diversas vezes. Um árbitro em particular, Carlos Bica, apesar dos esquemas que sempre inventavam para evitar estragos, saiu daqui diversas vezes em más condições.

Cargas de polícia no jardim era outro dos hábitos instalados no final dos jogos e quando a agitação subia de tom, o que acontecia quase sempre. Como sempre há uns quantos justos a pagarem pelos pecadores. Era o caso do Frederico dos jornais, coitado, sentado num banco de jardim do lado da marginal, a ser abordado por um par de polícias que ‘varriam’ a zona, e não conseguindo responder à ordem para sair dali, a não ser tremelicando, como era da sua condição, levava umas quantas bordoadas, até que os polícias se distraíssem com outra coisa. Não poucas vezes com os putos a desafiar os ‘chuis’.

Noutra ocasião viu-se uma cena em pleno centro do jardim, em frente ao coreto, dois parceiros grandes e pesados em discussão fervorosa que acabou em pugilato. Até aqui nada de extraordinário, só que ambos eram amigos e velhos companheiros na terra e de jogatanas no clube, não me recordo dos nomes. Sócios do CDPA, claro, mas a cena passou-se a seguir a um Paço de Arcos/Benfica, cujo resultado também não me recordo, só que sendo um deles sócio e simpatizante do Benfica, os argumentos não se ajustaram, e vai daí ….

Nós, os putos, gostávamos mesmo era dos jogos com o Sporting, porque traziam sempre um pequeno grupo de apoio, que se sentava, invariavelmente, na esquina mais perto da marginal. Integravam esse grupo, duas varinas gordas e altas com o palavreado que se pode imaginar, constantemente durante o jogo, e que sentavam entre elas um homem, que aparentava ser mais novo, magrinho, sempre vestido de amarelo, e que tinha uma voz de falsete fina e estridente. Claro que utilizámos todos os truques para provocar esta gente, inclusivamente do lado de fora do ringue. Dava-nos gozo as suas reacções destemperadas, dos três.

Não posso terminar esta diatribe sem referir um nome incontornável na história de Paço de Arcos e do seu hóquei patinado.


XICO AROLHA (nem sei se está bem escrito)

Nunca contactei com o homem, mas vi-o em actividade, conheço o fruto de seu trabalho, vi o seu comportamento modesto e desinteressado. Fiquei seu fã. Ele nunca o soube, mas também não seria preciso.

A pergunta surge óbvia (e perdoem-me se cometo alguma vilania): a menção da sua extraordinária dedicação ao Clube e à terra estará perpetuada em algum lugar? Para que os vindouros saibam que havia gente capaz de pôr outros interesses (os do Clube) acima dos seus?


Os putos do Xico Arolha






Colaboração do Bardino Fernando Reigosa.



2 comentários:

Anónimo disse...

Assisti a muitos jogos no Ring Leocádio Pórcio se não estou enganado no nome, com a grande maioria dos jogadores aqui referidos, pois fui morar para Paço de Arcos em 1969, e é bom recordar estas grandes figuras do G.D.P.A.

Cumprimentos
Virgilio Miranda

Fernando Reigosa disse...

A verificação de palavras que me saíu aqui é PLESS.
Eu apetece-me dizer 'bless you'.
É sempre uma enorme satisfação percebermos que não estamos a 'trabalhar para o boneco', ou só para os amigos do costume (que bem hajam).