19 de novembro de 2009

AS ESTÓRIAS DA BARDINAGEM 03



120 ANOS DA LINHA DE CASCAIS (SOCIEDADE ESTORIL)

Gostava de dar aqui o meu contributo sobre os dez anos que utilizei a linha (de 1953 a 1963) e que basicamente resumem um historial de acções heróicas na época, mas talvez pouco recomendáveis nos dias de hoje. A saber:

Passar à crava Nos meus primeiros anos de Liceu as “assinaturas de comboio” eram constituídas por um rectângulo com quadradinhos numerados de 1 a 52 e que cobriam assim duas viagens diárias, ida e volta, por mês (sábado incluído); a parte central do cartão era formado por um rectângulo mais pequeno com números de 1 a 12 para os meses do ano e respectiva fotografia.

Nós fazíamos no LNO 4 viagens por dia, o que obrigaria à emissão de dois cartões dos de 52 números por mês. Não me lembro de alguma vez ter sobrecarregado o meu pai com essa despesa adicional, já que ia fazendo o possível e o impossível para gastar no máximo 2 viagens por dia (muitas saídas e entradas em Santo Amaro, e às vezes, raramente, o recurso a penaites casa-liceu-casa).

Na história do passar à crava ficará para sempre gravada a célebre frase do nosso conterrâneo Luís Carlos Silveira do Carmo, um dos mestres dessa arte, … e o revisor olhou para mim e não me viu.


Entrar e subir em andamento – Comboios de seis e sete carruagens que ocupavam a totalidade da gare e conseguíamos subir e descer no limite, normalmente com grandes falanges de apoio dentro e fora que nos davam o impulso necessário para tal feito.

Passar a ponte a pé – Proeza sem grande registo de relevo se fosse feita pelas travessas visíveis nas laterais dos carris do comboio, na parte superior da ponte, mas que ganhava outra dimensão se fosse feita debaixo da linha só com o apoio da estrutura metálica.

Refiro-me à ponte de ligação entre S.Amaro e Oeiras que foi substituída recentemente, tendo assistido, simplesmente por acaso, com profunda emoção a essa operação (um dos engenheiros da transferência, tendo-se apercebido da minha emoção veio oferecer-me um capacete de protecção para continuar a ver os trabalhos, caso contrário teria que abandonar o local), talvez um bocado piegas mas lembro-me de dizer na altura OBRIGADO VELHA PONTE.


Fico por aqui, porque já me dói o dedo.
Abraços bardinos.




Colaboração do Bardino Fernando Sampaio.


1 comentário:

Fernando Reigosa disse...

Devo confessar que nunca fui um grande artista da 'crava'. Não que não tentasse e sentisse atracção pela coisa, mas era altamente desajeitado, e, portanto, dando excessivamente nas vistas.
Mas no que diz respeito ao saltar e entrar em andamento, aí sim era um dos campeões.
Já quanto á passagem inferior da referida ponte, estou em grande vantagem. É que o meu grupo de petiscos, com o Goinhas e o Freitas, ambos comandantes de Castelo da Mocidade Portuguesa no LNO (e agora?), quotizávamo-nos para piquenicar chouriço assado regado com vinho tinto, justamente nas plataformas inferiores da ponte. Incólumes, ninguém nos chateava, terminando com umas belas fumaças de Português Suave, sem filtro, claro.
Remato lembrando a mais 'heróica' das tiradas do meu enorme e particular amigo Luis do Carmo; discutíamos o 'Pacto do Atlântico', velhos hábitos de discutir os destinos do mundo, quando o Luis resolveu argumentar que os patos do atlântico eram elimináveis com uns tiros de caçadeira. Certo.
E o papá Carmo? Uma obra de arte. Cá voltarei.