Muitos poderão estar esquecidos, mas há um Paçoarquense ilustre, que há 3 ou 4 anos se mudou para algures por deficientes condições da sua velha casa, no Largo 5 de Outubro.
Chama-se a personagem em questão Afonso Gaspena.
Foi atleta do CDPA em várias modalidades, com realce para o Andebol e Basquetebol, de primeiro plano a nível nacional.
Enveredou em termos profissionais, dada também a sua mestria na caça submarina, pela investigação, catalogação e divulgação das mais diversas espécies de seres vivos marinhos e seus ‘derivados’ (conchas, etc.).
Por razões de ordem vária dedicou-se, posteriormente, às técnicas de congelação e preservação de todo o tipo de habitantes marinhos.
Um Senhor, um Companheiro, um Mestre, que todos escutávamos de certo modo enlevados. Com ele aprendi, como tantos outros, muito do que hoje sei, e meço comportamentos.
Não raro o vi sair de casa de cana de pesca já aparelhada, chegar ao pontão, pôr-se á pesca, ‘sacar’ uma quantidade de peixes (robalos, a maioria das vezes) e sair quando aparentemente ainda havia ‘procura’. Certo, certíssimo, é que poucos minutos depois já não se pescava nada. Ele lá sabia. E nunca contou a ninguém.
Como nunca contou as suas técnicas de congelação, donde se ter reformado, extemporaneamente.
Mas o que me motiva a vir aqui é outra coisa, simplesmente extraordinária. Senti, porém, que era necessário, ‘explicar’ minimamente o homem.
Tem a ver com o Lobito. Um cão Serra da Estrela, fidelíssimo companheiro do Afonso, que em tudo observava e cumpria as instruções do seu dono. Sem rebuços.
O que fazia o deleite da meninada, e dos companheiros do Afonso, era a cena crucial.
O Lobito sair de casa ‘colado’ á perna do dono, direcção esplanada dos Limas,
Sentar-se à mesa (literalmente) com o dono, ver-lhe ser servido em pratinho adequado um bolo de arroz (ou um queque, falha-me a memória), ficando em contemplação embevecida, até que o dono lhe dissesse – "podes comer". Então sim, deglutia a iguaria, num abrir e fechar de olhos, sem tocar no prato.
Saudades, destes amigos que desapareceram, dum ou outro modo, e que nos permitem estas recordações saborosas.
Colaboração do Bardino Fernando Reigosa.
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