19 de novembro de 2009

AS ESTÓRIAS DA BARDINAGEM 02



CINE-TEATRO DE PAÇO DE ARCOS

Não terão sido muitas as representações de Teatro naquela sala, mas recordo-me de ter participado em algumas na minha juventude.

Numa, de carácter religioso, sob a direcção da Bébé (eu creio de Giovanni Papini) fazia de mordomo, e iniciava a peça com uns bons 10 minutos sozinho em cena num pretenso atendimento telefónico, que devia ter alguma graça já que a plateia ria com gosto.

Só que no decorrer da representação, já com o drama bem instalado, sempre que entrava em cena, o público mimava-me com os mesmos risos de satisfação da fase inicial, o que já não se adequava ao texto bem pesado que versava sobre um jovem cego que recuperava a vista por força da FÉ.

Lembro-me que o papel principal estava entregue a um moço de Caxias, Eduardo Cruz de seu nome, e entre outros que me lembre, estavam o Paulo Brás e o Arrobas da Silva (rápidas melhoras para ele).

Numa outra peça com encenação do Virgílio Tavares, a história era sobre fantasmas, em que eles, os fantasmas, eram representados pelas raparigas, chefiadas pela Liliana (mulher do Armando “Carinhas” Aires) e os amedrontados eram os rapazes comigo à carola; também aí o público riu a bom rir, o que me faz pensar que se perdeu aqui um bom comediante; paciência…



Na parte do Cinema relembro o fenómeno curioso que ocorria especialmente nas soirées, em que as sessões começavam normalmente com meia casa, e acabavam quase cheias.

Um dos grandes responsáveis por este enchimento sazonal era o Albertino Cara de Alpergata que pela porta lateral do lado dos sanitários, no pátio da fábrica de mosaicos e pirolitos, ia permitindo um acesso silencioso e respeitador a uma plateia sedenta de cultura e de algibeiras vazias.

Eu pertencia a um grupo de privilegiados, já que o Albertino era sócio do meu pai e do pai do Edmar (Manuel Calceteiro) numa fabriqueta clandestina de água-pé que todos os anos pelo S. Martinho produzia uns litritos do saboroso líquido (bem me saía do corpo, principalmente dos pés tal produção) rapidamente consumidos; mesmo dando de desconto os habituais exageros próprios da grande distância que nos separam de tal evento, iria jurar que nunca bebi água-pé tão saborosa como aquela; o borbulhar e o piquinho a enxofre eram inigualáveis.


Última recordação para o Salão Vitória, palco de grandes bailaricos, marchas, cegadas e outro tipo de diversões, que também merece ser lembrado.



Colaboração do Bardino Fernando Sampaio.


1 comentário:

Fernando Reigosa disse...

Cheira-me que isto pode vir a ser aponta de "iceberg".
Vou dar um cheirinho:
- quem era o 'caramelo' que
á época representou numa peça
cujo nome não vou anunciar
agora, um tal de António de
Oliveira Salazar????
Dão-se bombons.